- Valor Econômico
Insegurança muda humor parlamentar com reforma
Mudou o humor do Congresso nos três meses que o separam da folgada aprovação da PEC dos Gastos. E o enfezamento ameaça a reforma da Previdência. Naquela PEC, o país tinha acabado de sair do primeiro turno das eleições municipais com acachapante derrota petista. O fogo morto do partido que poderia galvanizar a reação sugeria um futuro promissor para as reformas. Já não é. Há várias explicações para isso. Todas derivam da insegurança parlamentar em relação à sua sobrevivência política.
Que o presidente Michel Temer não seja uma promessa de futuro, já se sabia. O que não parecia claro é que o mercado eleitoral estaria, a essa altura, sem uma opção que canalize, com segurança, a viabilidade de um discurso liberal em 2018.
É grande a expectativa em relação ao prefeito de São Paulo, mas seus embates com aquele que ainda é o principal mandatário do partido, Fernando Henrique Cardoso, deixaram claro que João Doria ainda enfrentará pedreiras no seu próprio partido para vingar como candidato. O ex-presidente pode ter razão quando diz que não se trata de um líder, mas o prefeito foi além. O hino nacional cantado de mãos dadas com Fafá de Belém no Teatro Municipal não deixa dúvidas de que se trata de um destemido.
Tamanha é a impopularidade do presidente, que a canoa viável, quando aparecer, o fará na raia da oposição. Todos, inclusive os petistas, têm inconfessável desejo de que a mudança passe neste governo para não obrigá-los a enfrentá-la se vierem a chegar lá. Mas Ciro Gomes, Marina Silva e Jair Bolsonaro não dão sinais de que vão fazer das reformas liberais mote de campanha.
A chama de Luiz Inácio Lula da Silva ainda não comprova resistência até 2018, mas sua reaparição, num cenário multipolar, sem vetor definido, embaralhou ainda mais os sinais. O ex-presidente é o único, no mercado eleitoral, capaz de enfrentar uma disputa na condição de réu. Mesmo que não seja candidato, é dotado da liderança que Fernando Henrique não vê em Doria e em torno da qual os políticos se agrupam para enfrentar riscos eleitorais e pactuar o futuro.
A Lava-Jato é o segundo dos obstáculos à reforma da Previdência. Ainda não se sabe quantos daqueles incluídos na lista de Janot se tornarão réus antes da sucessão de 2018, mas o desgaste trazido pela operação sobre a imagem dos parlamentares já é tão grande que nenhum deles precisa enfrentar descréditos adicionais para renovar seu mandato.
Por mais que apresentem emendas com salvaguardas para seus nichos eleitorais - e já há 130 protocoladas - o protocolo facilita a exploração do voto por adversários políticos. Quando o presidente da sessão inicia a votação, é o texto-base que vai a escrutínio. Quem quiser levar sua emenda a voto, terá, primeiro, que aprovar a proposta, e buscar apoio na maioria para seu destaque. É o painel decorrente da votação principal com os 'sim' x 'não' que a oposição espalhará, em formato impresso e virtual, para o conhecimento dos eleitores de seus adversários.
Não há dúvida de que o Tesouro Nacional não pode se transformar no caixa da Previdência. Há vários argumentos em sua defesa. Um dos mais razoáveis é o de que é preciso pensar nas gerações futuras. A falência do Estado brasileiro em taxar patrimônio, renda e herança demonstra que apenas a fatia mais aquinhoada dos brasileiros tem esta preocupação atendida.
O financiamento eleitoral é o terceiro entrave à aprovação das mudanças na Previdência. Muitos daqueles que sustentaram mandatos parlamentares até aqui são defensores da reforma tal como apresentada pelo governo. Como a grana privada dificilmente vai voltar a irrigar campanhas no volume de antanho, a lealdade ao eleitor pode render mais do que aquela devotada ao antigo financiador.
Entre a PEC dos Gastos e a reforma da Previdência, os parlamentares voltaram para seus redutos eleitorais e perceberam que as pessoas já se esfastiam com o novelo da Lava-Jato, mas são capazes de trocar qualquer novela para se inteirar dos detalhes das mudanças na Previdência. O balanço das duas manifestações do ano são um reflexo disso. Os próximos protestos dependem de os sindicatos deixarem de se consumir em suas disputas internas. Atraídos pelas promessas do governo de benesses corporativistas, sindicalistas custam a ver o potencial do tema na sociedade.
Os ventos que vieram do Norte animaram a audiência reformista no ano passado, mas até Donald Trump teve que recuar em seus propósitos de limitar o escopo da saúde pública ampliada pelo antecessor. Seu partido curvou-se às evidências de que o Estado que desagrada é aquele que concentra renda e suprime direitos.
Um analista com quatro décadas no ramo diz que oito em cada dez pessoas ouvidas em grupos de pesquisa não gostam do que fazem. Não trabalham por boniteza, mas por precisão. Se pudessem, se tornariam empresários ou funcionários públicos. Milhões acordam cedo para trabalhar porque contam com o dia em que vão poder se aposentar. É possível dizer a essa gente que o sonho, na melhor das hipóteses, será adiado, mas não dá para acreditar que será fácil, depois, receber seu voto.
Homem do ano
No dia 16 de maio, o Museu de História Natural de Nova York vai sediar um jantar de gala para homenagear o 47º homem do ano da Câmara Brasil-Estados Unidos de Comércio. A comenda sempre é prestada a um brasileiro e a um americano. Este ano os escolhidos são João Doria e o subsecretário do Departamento de Estado americano, Thomas Shannon. Antes de Doria, o único tucano agraciado pela comenda, em 2015, foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Entre os patrocinadores estão Bradesco, Itaú/BBA, Santander, Safra, Cosan, CCR e FGV Projetos. No convite, o nome do brasileiro homenageado é seguido de dois títulos, o de prefeito de São Paulo e fundador do grupo Doria e do Lide. O evento tem convites que vão de US$ 1,2 mil a U$ 25 mil, sendo que estes últimos, na mesa principal, já estão esgotados. No café da manhã do dia seguinte, a Câmara sedia evento do Lide, um fórum de investimentos onde são esperados interessados no programa de privatizações do prefeito homenageado.
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