Folha de S. Paulo
Um ministro ressurge afirmando que talvez os Correios sejam privatizados. Ou seja, virar do avesso uma empresa de mais de 100 mil empregados, dito assim como quem não quer nada —aliás, ele não quer nada mesmo, pois fala que, na verdade, não gostaria de privatizar.
Outro ministro acena com taxação para fechar as contas. O mesmo que no ano passado disse não precisaria aumentar impostos se o teto de gastos fosse aprovado (e foi).
Nesse gosto-disso-mas-farei-aquilo, difícil saber o que vale. É recuando que o governo avança. A maioria legislativa assegura ao Planalto a aprovação de mudanças importantes. Essa onda, porém, segue adiante no meio de um turbilhão revolto de ideias, colocadas e retiradas de cena num ritmo frenético.
Fica evidente que o corredor polonês de uma campanha eleitoral faz falta a Michel Temer, e isso não tem nada a ver com legitimidade.
Foi a superação desse funil que deu ao prefeito João Doria esteio para aumentar a velocidade nas marginais paulistanas mesmo contra a opinião de tanta gente da dita elite.
Coisa parecida acontece com Donald Trump nos EUA. Era promessa de campanha combater o Obacamare e o legado ambiental do antecessor, objetivos que buscou —sucesso e fracasso são outro capítulo.
No caso de Temer, a ponte para o futuro tem muitos retornos. Isso fica claro na Previdência. Numa surpreendente entrevista, o presidente retirou da reforma os Estados e municípios e mandou para o espaço o princípio de equalizar as regras para todos.
Logo depois, o recuo ficou em suspenso, pois encontrou-se atalho para reinserir esses servidores.
A péssima comunicação do governo na reforma das aposentadorias não brota apenas do caldo da realpolitik. Essa falta de clareza tem custo alto. Dá volume à voz de quem joga na confusão, como aqueles que desafiam a aritmética e declaram que não existe deficit na Previdência.
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