- Revista Veja
Antes de pensar na Presidência, Lula precisa deixar de ser réu
A definição mais precisa sobre a figura de Lula da Silva quem deu foi Golbery do Couto e Silva a Emílio Odebrecht para tranquilizá-lo quanto à inexistência de periculosidade ideológica no líder sindical que surgia em São Bernardo do Campo naqueles anos de ditadura militar já em processo de declínio.
“Emílio, o Lula não tem nada de esquerda. Ele é um “bon-vivant”, informou Golbery à época, segundo relato do empreiteiro aos investigadores da Lava-Jato. O homem era forte no regime. Chefe da Casa Civil em dois governos de generais, um dos arquitetos da “abertura lenta e gradual”, identificara em Lula um adversário leal e maleável, cuja trajetória ascendente via com agrado.
Vendedor de gato por lebre, Lula nunca foi o que a construção de sua imagem pretendia que fosse. Encaixa-se perfeitamente na definição de bon-vivant: pessoa que não trabalha, vive de privilégios e mordomias – categoria em que pode também ser enquadrado Sérgio Cabral Filho. Não sendo de origem rica, esses tipos adquirem acesso aos luxos por meios de contatos proveitosos e a poder de uma total ausência daquele conjunto de valores que nos permitem distinguir o aceitável do inaceitável.
Assim é o Lula que das delações da Lava-Jato diante do grande público: um prestador de serviços a corporações corruptas de todos os matizes e origens em troca dos prazeres da boa vida, entre os quais a delícia de desfrutar do poder de maneira indecorosa e ainda se passar por político de habilidade, honestidade e senso justiça social nunca antes vistos no país.
A mais recente obra de ficção lançada por ele no mercado relata a disposição de se candidatar à Presidência da República e ainda bater todos os adversários para que o Brasil “volte a ser feliz”. Seria delírio, não fosse fruto da tentativa de emprestar cunho político ao que pertence ao universo criminal. O truque é velho, não surpreende. Espantosa é a facilidade com que, mais uma vez, ele consegue que as pessoas comprem seu peixe. Fala-se nessa candidatura como se ela fosse perfeitamente passível do ponto de vista legal e factível sob o aspecto político-eleitoral.
Hoje, a despeito de figurar como réu em cinco processos, ele até poderia se candidatar e, eventualmente governar. Mas a eleição é só daqui a mais de ano e meio, período durante o qual nada indica que possa haver uma melhora das condições, que, ao contrário, só pioram com o avanço das investigações. Há também um assunto em suspenso no Supremo Tribunal Federal sobre a possibilidade ou não de réus em ações penais assumirem a Presidência.
Até o pedido de vista pedido pelo Ministro Gilmar Mendes, em fevereiro passado, oito ministros já haviam votado pela proibição, formando maioria. Só isso já serviria para excluir a candidatura do campo das possibilidades. Mantidas as posições, e se não houver providenciais retardos na retomada do julgamento, é de notar que, antes de alardear a pretensão de voltar a ser presidente, Lula precisa deixar de ser réu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário