sábado, 22 de abril de 2017

Pinheiro apresenta documentos para reforçar acusações a Lula

Empresário da OAS vai mostrar agenda de encontros e viagens ao Guarujá

Relatório do MPF identifica que dois carros registrados em nome do Instituto Lula foram seis vezes, entre 2012 e 2014, de São Bernardo à cidade onde fica o tríplex que seria do ex-presidente

Depois de afirmar que o tríplex do edifício Solaris, no Guarujá, era para Lula, o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, vai utilizar um conjunto de documentos para comprovar o que relatou ao juiz Sérgio Moro. Pinheiro tem agenda de encontros com Lula e o registro de centenas de telefonemas e contatos relativos às negociações do apartamento no litoral paulista. O MPF também identificou seis viagens de dois carros registrados em nome do Instituto Lula ao Guarujá, entre 2012 e 2014.

Cartas na manga

Léo Pinheiro vai usar conjunto de documentos para provar acusações a Lula feitas a Moro

Cleide Carvalho e Gustavo Schimitti | O Globo

SÃO PAULO - Para comprovar as acusações que fez anteontem ao juiz Sérgio Moro contra o ex-presidente Lula, o empresário Léo Pinheiro vai utilizar um conjunto de documentos para mostrar que falou a verdade. Com cartas na manga, o empresário tem em mãos informações que incluem agenda de encontros pessoais entre os dois no primeiro ano de investigação da Lava-Jato, além de centenas de telefonemas e contatos relacionados às tratativas em torno do tríplex do Guarujá, o qual, segundo o empresário, estava reservado à família Lula desde que a OAS assumiu as obras do Edifício Solaris, em 2009.

Há ainda informações sobre as viagens que Léo Pinheiro fez ao Guarujá para encontros com Lula e dona Marisa, que devem ser corroboradas com os roteiros de viagens ao litoral paulista feitos por veículos registrados em nome do Instituto Lula. Os contatos por e-mail feitos para reformas no apartamento, que foi personalizado, e a compra de mobiliário e eletrodomésticos, já tinham sido revelados pela forçatarefa no início das investigações.

Parte dos novos documentos foi anexada à ação relacionada ao tríplex dez dias atrás. Inicialmente, o foco de Léo Pinheiro será no detalhamento das agendas, encaminhadas por e-mail, onde são registrados encontros pessoais com o ex-presidente Lula durante o primeiro ano da operação, deflagrada em março de 2014. Entre junho e novembro daquele ano, o empresário esteve cinco vezes em encontros com Lula até ser preso pela Polícia Federal. A última reunião entre os dois ocorreu em 10 de novembro de 2014, quatro dias antes de ser desencadeada a 7ª fase da Lava-Jato — a primeira grande ofensiva contra as empreiteiras acusadas de participar do cartel da Petrobras.

Ao juiz Sérgio Moro, na última quinta-feira, Léo Pinheiro disse ter ouvido de Lula, em junho de 2014, uma orientação para destruir registros de propinas pagas ao PT.
Um dos e-mails do Instituto Lula com registro dos encontros com o ex-presidente mostra que, em 3 de junho daquele ano, Lula chegou a São Paulo às 12h e foi direto para a sede do instituto, onde almoçou com um de seus filhos, Luís Cláudio, recebeu uma delegação estrangeira e, à tarde, esteve com Sérgio Machado, da Transpetro. Léo Pinheiro foi a última reunião, numa visita incluída na agenda daquele dia, às 17 horas.

Também um relatório do MPF identificou que dois carros registrados em nome do Instituto Lula fizeram pelo menos seis viagens, entre 2012 e 2014, de São Bernardo do Campo ao Guarujá, onde fica o Edifício Solaris. Procuradores obtiveram informações do sistema automático de pagamento de pedágio em rodovias (BR-050 e BR-101 e Rodovia dos Imigrantes) que ligam os municípios do ABC ao litoral paulista. Na avaliação de investigadores da Lava-Jato, o empresário demonstrou deslocamentos e encontros que teve com Lula.

— Ele (Léo Pinheiro) quer demonstrar os deslocamentos que teve para os encontros, as reuniões que teve com Lula. Isso não confirma o conteúdo da conversa, mas sim que houve a reunião. Coloca todos no mesmo local — afirmou ao GLOBO uma fonte ligada às investigações. — A dificuldade é sempre saber o conteúdo da reunião. Trabalhamos com eventos posteriores ou decisões que se tornam públicas — explica.

TELEFONEMAS PARA TESOUREIRO
No conjunto de provas também consta uma lista com 163 telefonemas entre Léo Pinheiro e Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula e um dos homens mais próximos ao ex-presidente. Os telefonemas foram feitos entre agosto de 2013 até meados de 2014. Mais: outras 31 ligações para Clara Ant, funcionária do instituto, e mais 24 telefonemas entre o empresário e José de Filipi, ex-tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff em 2010.

Além de confirmar que Lula era o dono do tríplex no Edifício Solaris, o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro afirmou em depoimento ao juiz Sérgio Moro na última quinta-feira que o petista e sua mulher, Marisa Letícia, morta em fevereiro, pretendiam passar as festas de fim do ano de 2014 no apartamento.

Léo Pinheiro declarou que, em janeiro de 2014, foi procurado por Lula porque o ex-presidente queria fazer uma visita ao apartamento junto com a mulher. De acordo com o ex-presidente da OAS, a reforma foi aprovada pelo casal e já estava adiantada. Em uma segunda visita ao imóvel, dona Marisa pediu que as obras ficassem prontas antes do fim do ano.

— Dona Marisa me fez um pedido. Disse: “Nós gostaríamos de passar as festas de fim de ano aqui no apartamento. Teria condições de estar pronto?”. Eu disse: “Olha, pode ficar certa que, antes disso, nós vamos entregar tudo pronto” — declarou o empresário no depoimento.

Preso duas vezes na Lava-Jato, a última em setembro de 2016 até hoje, o empresário vinha optando pelo silêncio, numa espécie de pacto de preservação a Lula. Seguiria a mesma estratégia da Odebrecht até o momento em que os executivos de outras empresas quebraram o silêncio.

O advogado do ex-presidente, Cristiano Zanin Martins, contestou os documentos em nota: “Desde quando um e-mail de agenda prova a ocorrência de um encontro e, sobretudo, o que poderia ter sido discutido no suposto encontro? Léo Pinheiro não tem nenhuma prova contra Lula, porque ele não cometeu qualquer ato ilícito. Ele (o empresário) tem uma versão negociada para agradar os procuradores para ter a sua delação premiada — negociada desde 2016 — finalmente aceita, para que possa deixar a prisão ou obter benefícios”.

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