sábado, 2 de dezembro de 2017

Julianna Sofia: Privilégios

- Folha de S. Paulo

A decisão de uma juíza federal de suspender a campanha publicitária da nova Previdência que tem o mote do "combate a privilégios" bagunça ainda mais o coreto para a votação da proposta. Não que a mixórdia já não seja tamanha.

Pouca gente aposta em avanço na Câmara neste ano, principalmente após levantamento desta Folha mostrando que 220 deputados são contrários à mudança de regras. Depois do Carnaval de 2018, há menos chance ainda. Mas a propaganda, estimada em R$ 20 milhões, vinha encorajando o Palácio do Planalto a torrar mais R$ 70 milhões com publicidade, pois o marketing agressivo começava a reduzir a rejeição à reforma.

A juíza —e servidora— Rosimayre de Carvalho considera a peça manipuladora. Diz que ofende funcionários públicos. "Será uma das reformas mais profundas e dramáticas para a população brasileira." O diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, procurou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para defender a corporação na reforma, alegando que "perder direitos neste momento seria péssimo para o policial que hoje enfrenta a corrupção".

O Ministério da Fazenda destrinchou o deficit per capita dos regimes de aposentadoria em 2016. Enquanto um aposentado do setor urbano representou deficit de R$ 1.501, cada rural gerou saldo negativo de R$ 10.715. O rombo provocado por um servidor civil equivale a R$ 68.116. Um militar reformado, R$ 127.692.

Embora os dados sejam inquestionáveis, assim como a juíza e o policial, há outros patronos do apanágio para o funcionalismo. O PSDB —que em 2015 ajudou a derrubar o fator previdenciário para encurralar Dilma Rousseff— agora quer normas menos duras para a nova aposentadoria de servidores. A sigla ainda vai decidir se fecha questão pela aprovação da reforma da Previdência.

Pelo mapa de votos da Folha, só oito tucanos declararam ser a favor (total ou parcialmente) da proposta —eles e outros parcos 49 deputados.

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