Huck opta por TV e aborta plano de disputar o Planalto
Após voltar a se movimentar entre líderes políticos e econômicos, apresentador da Globo descarta candidatura; recusa leva em conta aspecto profissional e receio de exposição
Sonia Racy / O Estado de S.Paulo
O apresentador Luciano Huck manteve a decisão de não se candidatar à Presidência da República na eleição deste ano. Huck optou pela carreira de sucesso na televisão em vez de se aventurar em uma disputa presidencial. Ele vinha sendo cobrado pela TV Globo a se definir sobre o assunto, o que fez nesta quinta-feira, 15.
“Não serei candidato, mas não quero falar mais sobre o assunto agora. Preciso digerir a decisão”, afirmou Huck à coluna Direto da Fonte.
O apresentador chegou a anunciar que não seria candidato em artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo, em novembro, mas voltou a se movimentar em janeiro, se reunindo com líderes políticos, entre eles o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e representantes do setor econômico.
A informação sobre a desistência de Huck foi revelada pelo site O Antagonista.
Huck passou a circular novamente após o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) confirmar a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que tende a impedir sua candidatura a mais um mandato.
O apresentador, com o discurso da renovação na política, já começava a ser tratado como uma alternativa na disputa presidencial por líderes partidários e legendas que veem a pré-candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) com reticências. A principal desconfiança é em relação ao potencial eleitoral do governador paulista, que ainda não atingiu dois dígitos nas pesquisas de intenção de voto.
A acolhida de FHC ao apresentador causava constrangimento no entorno de Alckmin, mas o governador costumava elogiar publicamente Huck. Segundo pessoas próximas a Alckmin, ele considera que o apresentador e seu movimento, o RenovaBR, deixaram um “legado” para a eleição de 2018. O governador de São Paulo vai tentar se aproximar do grupo.
‘Decisão solitária’. “A decisão de entrar para a política é difícil e solitária. No Brasil, ela só é uma decisão fácil pra quem já tem família na política. Para alguém como ele, sem nenhum clã político, é uma decisão muito difícil”, disse o deputado Roberto Freire, presidente do PPS, partido que negociava a filiação do apresentador.
Além da questão profissional, que envolvia não apenas o próprio contrato com a Globo – Huck é dono de um dos maiores salários da televisão brasileira e sua saída da emissora levaria provavelmente também à suspensão do programa de sua mulher, Angélica –, ainda pesou a exposição que uma candidatura ao Planalto provocaria.
Familiares não endossaram o projeto político do apresentador, mas era um desejo que ele alimentava. Com quem conversou nesta quinta-feira, Huck se mostrou abatido com a decisão. Entre profissionais que discutiam a hipótese de candidatura do apresentador, a avaliação é de que o projeto era viável eleitoralmente, mas exigia uma preparação prévia para enfrentar a arena política, o que não ocorreu.
A notícia foi recebida com desalento por movimentos que pregam a renovação na política. Até esta quarta-feira, 14, eles ainda concluíam uma carta-convite para Huck participar de um debate.
“Ele saindo do jogo não é uma boa notícia para a ideia de renovação”, disse Humberto Laudares, um dos fundadores do Agora!, grupo do qual Huck faz parte. “Independentemente de ser candidato ou não, havia na presença dele um simbolismo de uma nova geração que começava a entrar no jogo político.”
Integrantes do Agora! e do RenovaBR avaliaram que, sem Huck, os grupos perdem o que consideravam “a mola propulsora” de candidatos ao Legislativo oriundos dos movimentos.
Procurada, a assessoria da TV Globo afirmou que não tinha informações sobre uma eventual reunião de Huck com a direção da emissora. / Colaboraram Gilberto Amendola, Pedro Venceslau e Ricardo Galhardo
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