- Folha de S. Paulo
CNA vive processo semelhante ao do PT, mas não fechou os olhos para evidências
Caro leitor, convido-o a provar hoje a receita de um saboroso experimento mental. Pegue o caso do tríplex no Guarujá, em que abundam indícios de que a OAS preparou o apartamento para dá-lo a Lula sem esboçar nenhum tipo de cobrança. Deixe esse rolo descansando. Vamos usá-lo mais adiante.
Em seguida, pegue o caso do sítio em Atibaia, que, embora não estivesse no nome de Lula, era frequentado pela família do ex-presidente e recebeu reformas bancadas pela OAS e pela Odebrecht, também sem sinal de que a conta seria enviada aos usufrutuários da propriedade. Reserve.
Agora retire o nome de Lula de ambos os enroscos e o substitua pelo de outro político. Se você tiver simpatias pelo petista, escolha um pelo qual tenha especial desapreço. Responda tão sinceramente quanto possível. Se o acusado de ter se beneficiado da infinita boa vontade das empreiteiras fosse o Maluf, o Aécio ou o Bolsonaro, você estaria dizendo que não há provas ou já os teria condenado em seu tribunal de ética interior?
Não tenho a pretensão de responder pelos leitores, mas, se empregarmos a régua moral que o PT usava em seus primórdios —e que me parece em geral correta—, o discurso do "não há provas" não constituiria uma boa defesa. Muitos políticos de direita foram sumariamente condenados pelo PT por muito menos.
Vale frisar que não estamos, nesse experimento, tratando da condenação judicial, na qual entram questões formais e técnicas mais complexas, como determinar se é necessário um ato de ofício para caracterizar o crime de corrupção passiva. Estamos falando apenas do aspecto ético, no qual é sempre muito difícil conciliar uma conduta correta com o recebimento de presentes de empresários.
Na África do Sul, o CNA vive um processo semelhante ao do PT, mas teve a sabedoria de não fechar os olhos para as evidências e exigiu a cabeça de seu líder Jacob Zuma, forçando-o a renunciar à Presidência.
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