- Folha de S. Paulo
Apresentador vinha sendo visto como saída para fraqueza dos nomes no campo
Luciano Huck disse o segundo não sem nunca ter dito simoficialmente à pretensão de ser candidato a presidente da República. Motivos não lhe faltaram: pressão da empregadora, incerteza na família, dúvidas sobre a viabilidade da empreitada e a convicção de que teria a vida virada ao avesso.
Se não houve desistência formal, ela ocorreu na prática. Huck cercou-se de uma estrutura profissional de análise político-partidária, ouviu experientes políticos, economistas e empresários. Estava se preparando para ser candidato. Ao fim, foi o peso da Globo, que no mercado político era vista como uma apoiadora da candidatura, o fator central para o não deste fevereiro.
A um amigo, ele disse nesta semana que o processo final de decisão havia lhe "fritado os neurônios". Agora, frito está o campo do centro político brasileiro, que havia apostado pesadamente na hipótese de Huck se lançar candidato.
Como se sabe, há pouca confiança entre os atores políticos do governismo no nome do governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB). O tucano tem as credenciais para uma candidatura perfeita no papel: lidera Estado poderoso, pode comandar alianças estaduais fortes, tem estrutura, tempo e dinheiro para atrair aliados.
Só que isso é teorético. Alckmin está estacionado abaixo dos 10% nos cenários eleitorais por ora, o que é natural já que estamos no começo do ano e a campanha nem de longe começou com força. Só que isso serve para elevar a temperatura dentro do PSDB e entre aliados. Além disso, enfrenta problemas organizacionais sérios com a desunião de sua base em São Paulo _Aécio Neves poderá lhe contar o que acontece com um presidenciável com problemas em casa.
Com isso, o assanhamento entre os partidos menores do governismo, e mesmo entre o maior de todos, o MDB, é natural. Se Henrique Meirelles (PSD) perdeu o ímpeto que de resto a realidade nunca lhe permitiu ter, Rodrigo Maia (DEM) segue desfilando como nome a considerar apesar de números não exatamente encorajadores.
Ambas as candidaturas podem acontecer, claro, mas dificilmente terão perna para a maratona. Assim, os olhos todos se voltaram nas duas últimas semanas ao cenário Huck, costurado por ninguém menos que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
As conversas em torno de seu nome mobilizaram a elite da ossificada política nacional. Os movimentos de renovação política que acabaram associados ao nome de Huck viram seu protagonismo sumir e se agitaram para buscar participação no eventual barco da candidatura, mas ao fim foi a velha política que se preparava para levar o "novo" para a disputa.
O apresentador poderia encaçapar os votos não ideológicos tornados órfãos pela virtual inelegibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que parecem distantes de Alckmin ou de qualquer outro nome de centro. A centro-esquerda de Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) leva seu quinhão, como em menor medida algum poste indicado pelo PT, mas ainda há muito a ser disputado.
Agora, voltaram para a realidade. Um aliado de Alckmin comemorava a "volta à normalidade" na tarde desta quinta (15), mas isso parece longe de ser um dado animador. Um estrategista de Jair Bolsonaro (PSC), por sua vez, fazia contas sobre o que considera uma presença inevitável no segundo turno.
De negativa em negativa, seja a atribulação legal de Lula ou as questões pessoais de Huck, o quadro eleitoral de 2018 vai se construindo.
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