“Achei excelentes os protestos nos desfiles. É sempre uma felicidade ver o poder tripudiado em praça pública, durante uma festa popular; também é uma alegria ver escolas de samba falando em nome dos governados, e não dos governantes. Pena que, ao longo dos últimos 15 anos, elas tenham preferido, em larga escala, ignorar o que acontecia no país. Em entrevista dada à revista online “Carnavalesco”, Jack Vasconcelos, responsável pelo festejado desfile da Tuiuti, explicou por quê:
“Eu acho que é positivo a gente poder se posicionar. Muito disso tem relação com a troca de governo. Hoje somos oposição e antes éramos parceiros do poder e não podíamos arranhar a relação. Enredos mais críticos não eram incentivados. Agora com uma guerra declarada tem essa abertura maior. Os dirigentes nos deixam livres, e temos mais é que fazer”.
A única novidade na declaração é a sinceridade. Ninguém tinha exposto ainda, de forma tão clara, o que todos sabemos há tanto tempo.
“Antes éramos parceiros do poder e não podíamos arranhar a relação.”
Uma coisa é protesto, outra é indignação seletiva, uma prima-irmã deformada do marketing e da hipocrisia.”
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Cora Rónai é jornalista. “Carnaval, Carnaval” O Globo, 15/2/2018
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