- Folha de S. Paulo
Violência, hostilidade e ameaça são atalhos perigosos nas competições políticas. Essas armas são tradicionalmente usadas em guerrilhas, golpes de Estado e ditaduras para impor vontades e mudar regras sem a necessidade de se recorrer à construção de consensos.
O desvio costuma se apresentar quando instituições estabelecidas frustram os desejos de um grupo, que opta por fazer à força as transformações de seu interesse. Tomar esse caminho, porém, é uma solução arriscada, que invariavelmente mina a estabilidade e fomenta divisões, com resultados imprevisíveis.
O acirramento dos embates políticos no Brasil atingiu um ponto dramático em 2018. Cidadãos e analistas tentam explicar as ações violentas sob a ótica da decepção dos brasileiros com partidos e instituições, que deveriam representá-los e tomar decisões de acordo com suas vontades.
O bloqueio e os ataques à caravana do ex-presidente Lula são um símbolo da reação de segmentos insatisfeitos e descrentes com o processo institucional que balizará o futuro político do petista.
A pesquisa Datafolha do fim de janeiro revelou um descompasso entre desejos e expectativas nesse caso. No eleitorado não lulista, 74% responderam que o ex-presidente deveria ser preso, mas só 46% disseram acreditar que ele realmente será colocado na cadeia. A decisão do STF que concedeu um salvo-conduto a Lula acentuou a irritação daqueles que querem vê-lo atrás das grades.
Opositores que obstruíram a caravana e atiraram pedras contra os petistas tentaram aplicar por conta própria a sanção de excluir Lula da arena política, usurpando o papel do Estado nessa decisão.
Se o brasileiro acredita que as instituições estão podres e não atendem a seus anseios, a única saída legítima é reformá-las pela política —e as eleições são uma ótima oportunidade para isso. O uso da força como regra é incabível e levará a sociedade à brutalidade generalizada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário