- O Globo
Na noite em que atiraram contra a caravana do ex-presidente Lula, o governador Geraldo Alckmin foi ao cinema. Depois de assistir a um filme sobre o bispo Edir Macedo, o tucano foi instado a comentar o ataque ao adversário político. “Acho que eles estão colhendo o que plantaram”, respondeu.
Para quem busca se vender como candidato de “centro”, a declaração foi um tiro pela culatra. Diante da repercussão negativa, o marketing entrou em campo e operou uma mudança de tom. Ontem de manhã, Alckmin tuitou que “toda forma de violência tem que ser condenada” e que é “papel das autoridades apurar e punir os tiros contra a caravana do PT”.
O episódio deixa uma dúvida: o candidato a presidente usará o figurino de estadista ou voltará a ser o governador que, após uma chacina em seu estado, disse que “quem não reagiu está vivo”?
O Brasil está às vésperas de uma campanha tensa, em que a violência das ruas e a intolerância das redes ameaçam transbordar para a corrida eleitoral. É hora de cobrar responsabilidade dos políticos que dizem respeitar as regras da democracia e do convívio civilizado.
A senadora Gleisi Hoffmann, do PT, já deu sua cota à insensatez ao dizer que seria preciso “matar gente” para se cumprir uma decisão judicial contra Lula. No último sábado, a senadora Ana Amélia, do PP, exaltou os gaúchos que hostilizaram e jogaram ovos contra a caravana petista. As duas recuaram, mas o discurso incendiário já havia inflamado a militância.
Ontem Jair Bolsonaro usou a emboscada aos ônibus para atiçar seu eleitorado. “Lula quis transformar o Brasil num galinheiro. Agora está colhendo os ovos”, debochou o deputado. Sem exibir provas, ele ainda sugeriu que os tiros teriam sido disparados pelos próprios petistas.
No caso de Bolsonaro, cobrar responsabilidade seria apenas perda de tempo.
Em dois dias, o ministro Dias Toffoli soltou Jorge Picciani, mandou Paulo Maluf para casa e devolveu os direitos políticos do senador cassado Demóstenes Torres.
Daqui a seis meses, Toffoli assumirá a presidência do Supremo Tribunal Federal. Antes de vestir a toga, ele foi reprovado em dois concursos para juiz.
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