- Folha de S. Paulo
Devemos nos esforçar para banir as mentiras
das esferas mais estratégicas
A CPI
da Covid se tornou um palco para pequenas, médias e grandes mentiras.
Como não quero a Polícia do Senado no meu encalço (já basta a PF), não
declinarei o nome de quem está faltando com a verdade. Acho que todas as partes
concordarão que há alguém empulhando.
Meu intuito hoje é desmitificar um pouco a
carga moral negativa que pesa sobre o engodo. Por mais doloroso que seja reconhecê-lo,
a fraude está inscrita em nosso DNA. Mais até, está inscrita na natureza.
Camuflagem, mimetismo e tanatose (fingir-se de morto) são alguns dos mecanismos
pelos quais seres vivos tentam ludibriar predadores e presas. Humanos excelemos
nessa matéria.
Como ensina o psicólogo Robert Feldman, bebês com só seis meses já simulam choro para atrair a atenção dos pais. Entre os três e sete anos, crianças submetidas a experimentos em que se comprometem a não espiar às escondidas um objeto que precisam identificar desobedecerão à regra em 82% das ocasiões e mentirão sobre isso em até 95% das vezes.
Adultos em conversações de apenas dez
minutos nas quais se apresentam um ao outro faltam com a verdade para aparecer
sob uma luz mais favorável uma média de três vezes cada um, podendo chegar a 12
nos casos mais patológicos.
Se a mentira é assim tão natural, por que a
má fama? Existem vários tipos de mentira. Há desde as socialmente necessárias
—você não deve falar mal da comida de seu anfitrião mesmo que ela esteja
intragável— até as assassinas.
Há situações em que engabelar ou faltar com
a verdade tem enorme custo para a sociedade. Mentir numa CPI para proteger um
governante irresponsável e incompetente é uma delas. Outras são impedir o
avanço das ciências, da elucidação de crimes e da circulação de informações de
interesse público.
Não vamos acabar com as mentiras, que são
parte do mundo, mas devemos nos esforçar para bani-las ao menos dessas esferas
mais estratégicas.
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