A
esperança surge na figura do novo presidente, Gabriel Boric, um jovem de 36
anos à semelhança do Allende, um representante da esquerda chilena.
Conforme
anunciado no seu discurso de posse, o zelo pela construção do Estado Social
como um ente coletivo, retumba o primeiro discurso de campanha. “Diante do povo
e dos povos do Chile, prometo dar o melhor de nós pelo bem do país”,
reafirmando compromisso com a luta contra as ações que provocam as alterações
climáticas, e o empoderamento da mulher.“Estou muito feliz de ter diante de mim
um gabinete com mais mulheres que homens”.
As
prioridades do programa de governo apontam para a recuperação da economia, para
a reestruturação das pensões e aposentadorias, tornando-as dignas, para o
reconhecimento dos povos originários, para o não endividamento dos estudantes
com a educação, para a continuidade das buscas pelos desaparecidos durante a
ditadura.
No governo atual do Chile, as mulheres assumem 14 ministérios, entre eles o Ministério do Interior e Segurança Pública, o Ministério da Defesa Nacional, o Ministério da Mulher e Equidade de Gênero, o Ministério da Saúde e Ministério das Relações Exteriores.
Impossível
pensar em construir um Estado Social, com equidade e justiça, sem considerar
que homens e mulheres estão presentes na sociedade de forma paritária. No Chile
as mulheres constituem 50,6% da população, dados de 2022.
Sem
dúvida, o exemplo chileno será referência para os países da América Latina.
Apesar
do avanço das mulheres em vários aspectos da vida pelo mundo afora, ainda
observamos que há muito o que fazer. É o que revela uma pesquisa realizada em
40 países com 30.890 pessoas, indicando que apenas uma minoria da população
acredita que homens e mulheres devam ser tratados sem discriminação de gênero.
(Doxa/Win dados apresentados à imprensa por ocasião do dia internacional da
mulher, 08 de março).
Países
que avançaram no respeito à paridade de gênero são Filipinas, Tailândia,
Indonésia e Vietnam. “O núcleo familiar foi o âmbito onde a maioria dos
entrevistados a nível mundial relatou haver mais paridade de gênero (66%)”.
Outro
estudo realizado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF), através do Relatório de
Desigualdade Econômica de Gênero, demonstra que a pandemia contribuiu muito
para que haja um alongamento de 36 anos na projeção de igualdade de gênero no
mundo, em relação à “edição anterior que apontava um prazo de 99,5 anos para
equalizar a participação de homens e mulheres na economia, na política e na
educação”.
As
mulheres continuam sendo prescindidas na contratação para o trabalho em muitas
empresas, e com certa dificuldade chegam a ocupar funções de liderança.
No
entanto, tem-se observado que em muitos países algumas empresas têm colocado
diretrizes estratégicas que possibilitam que mulheres possam ter reconhecidas
as suas capacidades e possam ocupar os postos de liderança.
A
dupla jornada de trabalho, o cuidado com os filhos e os níveis de escolaridade
ainda são questões que impossibilitam que mulheres e homens se coloquem na
sociedade em condição de igualdade, observado-se as diferenças individuais.
No
Brasil, atualmente as mulheres são 52% da população e sua representatividade no
Congresso Nacional é de apenas 14%. Assim sendo, o Brasil levará cerca de 120
anos para se alcançar a igualdade de gênero no Congresso. (cálculo de Juliana
Granjeia)
Eu
e muitas gerações não veremos esse estágio da sociedade, se permanecerem as mesmas
condições de discriminação e violência contra a mulher na sociedade brasileira.
Muito
difícil. As mulheres estão presentes nas ações ou na vida das pessoas que são a
base da sociedade, como nas áreas de saúde e educação, nos cuidados com idosos
e crianças, nas ações de solidariedade. Nas ONGs e Associações de Moradores. No
entanto, é pequeno o avanço quando se trata da representatividade política e de
ocupar cargos de liderança nas empresas e da preservação da vida.
Para
as eleições de 2022, apenas em nove dos 27 estados da federação mulheres estão
cotadas para serem candidatas ao cargo de governadora.
E
para a Presidência da República, até momento apenas uma mulher se lançou como
pré-candidata, a senadora pelo Mato Grosso do Sul, Simone Tebet. E com muita
dificuldade de ser aceita no próprio partido, o MDB.
No
entanto, quase todos os dias a imprensa dá conta da situação de violência
contínua e sistemática contra a mulher na sociedade, em todas as regiões do
país. Parece até que são ações conduzidas por um planejamento hediondo e
macabro.
Os
direitos de igualdade previstos na nossa constituição nem são lembrados pelas
instituições, pelos governantes e por nós mesmas.
Os
dados divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública às vésperas da
comemoração do Dia Internacional da Mulher, 8 de março, indicam que em 2021, no
Brasil, aconteceu “um estupro a cada 10 minutos e um feminicídio a cada 7
horas”. (G1 DF)
Segundo
a diretora do Fórum, Samira Bueno, não existe espaço no Brasil em que a mulher
esteja realmente segura. “Ela está sofrendo violência dentro de casa, aí ela
pega o metrô para ir para o trabalho, onde também vai ser assediada. Qual é o
lugar seguro, então? Ele existe?”(BBC News Brasil)
Então,
o que fazer e para onde vamos?
As
leis no Brasil existem, mas não são cumpridas. Políticas públicas que são
estruturadas são também desfeitas com a maior facilidade pelo governo de
plantão.
Diz-se
que tudo isso acontece por uma questão cultural. Cultura muda com educação,
adoção de conhecimentos, avanço da ciência, revisão de valores com o objetivo
de proteger a sociedade. E as pessoas não são nem capazes de mudar a cultura
que flagela e mata as mulheres que carregam por nove meses os filhos de todos
em suas barrigas?
A
paridade de gênero é uma necessidade para as mulheres, para os homens e para a
sociedade, porque elimina todas as formas de discriminação e violência contra
mulheres, e faz surgir um ambiente em que privilégios são substituídos pela
garantia de direitos, fortalecendo as relações sociais.
Este
ano teremos eleições para a Presidência da República, governos estaduais,
Senado, Câmara Federal e Assembleias Legislativas (estados), momento oportuno
para se apostar na paridade de gênero na política.
*Mirtes Cordeiro é pedagoga.
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