Folha de S. Paulo
Instituições financeiras querem forçar
acionistas a entrar com dinheiro e vender ativos
Um representante de um dos bancos que vão
tomar um espeto da Americanas diz
que "agora, é preciso apertar a empresa e fazer com que seus acionistas
maiores assumam responsabilidades, o bastante para que a companhia não fuja com
o dinheiro [sic], mas nem tanto, a ponto de que a empresa deixe de ser
operacional".
É público que os bancos maiores, pelo menos, querem evitar que a Americanas saque das suas contas bancárias sem supervisão e controle, sem que explique o que vai fazer do dinheiro (a quem vai pagar, se vai, por qual motivo etc.). O BTG Pactual, por exemplo, conseguiu nesta quarta-feira uma decisão judicial provisória nesse sentido.
A situação, porém, está desembestada, no
momento. Os bancos na prática foram à jugular da Americanas, a fim de se
protegerem ("para que não fujam com o dinheiro" deles). Estão
tratando o pessoal da Americanas como gente perigosa.
Por outro lado, como reconhece obviamente
um desses bancões, com um caixa diminuto, sem crédito, sob risco de fuga de
fornecedores e sem um acordo qualquer, judicial ou outro arranjo ao menos
provisório, a empresa pode deixar de ser operacional. Isto é, não ter dinheiro
para financiar suas atividades do dia a dia (para encomendar mercadorias, por
exemplo).
De resto, também óbvio, se a cobrança for
mesmo na jugular, com antecipação de pagamento de débitos, a Americanas se
torna insolvente, o que não faz sentido para ninguém. No resumo da ópera, sem
uma recuperação
judicial ou uma doação milagrosa e instantânea dos atuais acionistas,
não tem saída.
A estratégia, diz esse representante de um
dos bancões, é forçar alguma espécie de compromisso de acionistas maiores. Ou
seja, uma atitude do trio Jorge
Paulo Lemann,
Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira (cerca de 31% das ações) ou, mais
improvável (diz o representante do bancão), dos gestores de dinheiro grosso
Capital Group, TIAA e Blackrock (cerca de 21%). Isto é, teriam de entrar com
dinheiro novo e vender ativos, como a empresa de hortifrúti Natural da Terra,
comprada em 2021, para dar um exemplo maior, e cessar investimentos.
A este jornalista, pelo menos, mais não foi
dito a respeito do estado das negociações, mesmo entre bancos credores, que
teriam de acertar uma estratégia, reconhece o representante do bancão, a fim de
"não precipitar resultados inapropriados, que não são do interesse de
ninguém".
Um problema maior e óbvio para que se
organize algum acordo ou estratégia é o próprio fato de que nem ao menos se
sabe o tamanho do buraco, da camuflagem de dívidas, e de que não se conhecem
responsáveis pela fraude e seus detalhes.
"Como negociar com alguém que pode ter
dado um golpe? Qual a natureza das irregularidades? Tudo isso causa
dificuldades e dúvidas jurídicas sobre o processo todo", diz o
representante do bancão credor da Americanas. No entanto, uma solução é
necessária em dias ou horas.
De resto, o rolo pode seguir por novos
caminhos. Reportagem desta Folha mostrou
que um
terço da dívida bancária da Americanas é com instituições públicas. O papagaio
vermelho da companhia com todos os bancos seria de uns R$ 20 bilhões.
O tamanho do problema com as instituições
financeiras públicas deve levar o governo para dentro da confusão —vai ser
cobrado pelo que fizer a respeito do assunto, de agora em diante, mesmo não
tendo tido nada a ver com o rolo.
A situação pode até se complicar, pois
tende a haver um tempero político. Assim, o caso deve ser assunto também no
Congresso. Por outro lado, pode ser um incentivo para que esse escândalo grosso
não termine um acordão e "ajustamento de condutas".
2 comentários:
Quem são os maiores ladrões do mundo? Os bilionários é claro. Tem bilionário bonzinho que gasta dinheiro com causas humanitárias? Tem é claro, mas não invalida o fato de que são os maiores ladrões do mundo. Vejam o tamanho do rombo na Americanas: 20 bilhões. Taí, o BNDESÃO do boçal revelou-se um blefe. Agora surge o tal no âmbito da propriedade privada.
Pois é...
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