quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Vinicius Torres Freire - Bancos na jugular da Americanas

Folha de S. Paulo

Instituições financeiras querem forçar acionistas a entrar com dinheiro e vender ativos

Um representante de um dos bancos que vão tomar um espeto da Americanas diz que "agora, é preciso apertar a empresa e fazer com que seus acionistas maiores assumam responsabilidades, o bastante para que a companhia não fuja com o dinheiro [sic], mas nem tanto, a ponto de que a empresa deixe de ser operacional".

É público que os bancos maiores, pelo menos, querem evitar que a Americanas saque das suas contas bancárias sem supervisão e controle, sem que explique o que vai fazer do dinheiro (a quem vai pagar, se vai, por qual motivo etc.). O BTG Pactual, por exemplo, conseguiu nesta quarta-feira uma decisão judicial provisória nesse sentido.

A situação, porém, está desembestada, no momento. Os bancos na prática foram à jugular da Americanas, a fim de se protegerem ("para que não fujam com o dinheiro" deles). Estão tratando o pessoal da Americanas como gente perigosa.

Por outro lado, como reconhece obviamente um desses bancões, com um caixa diminuto, sem crédito, sob risco de fuga de fornecedores e sem um acordo qualquer, judicial ou outro arranjo ao menos provisório, a empresa pode deixar de ser operacional. Isto é, não ter dinheiro para financiar suas atividades do dia a dia (para encomendar mercadorias, por exemplo).

De resto, também óbvio, se a cobrança for mesmo na jugular, com antecipação de pagamento de débitos, a Americanas se torna insolvente, o que não faz sentido para ninguém. No resumo da ópera, sem uma recuperação judicial ou uma doação milagrosa e instantânea dos atuais acionistas, não tem saída.

A estratégia, diz esse representante de um dos bancões, é forçar alguma espécie de compromisso de acionistas maiores. Ou seja, uma atitude do trio Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira (cerca de 31% das ações) ou, mais improvável (diz o representante do bancão), dos gestores de dinheiro grosso Capital Group, TIAA e Blackrock (cerca de 21%). Isto é, teriam de entrar com dinheiro novo e vender ativos, como a empresa de hortifrúti Natural da Terra, comprada em 2021, para dar um exemplo maior, e cessar investimentos.

A este jornalista, pelo menos, mais não foi dito a respeito do estado das negociações, mesmo entre bancos credores, que teriam de acertar uma estratégia, reconhece o representante do bancão, a fim de "não precipitar resultados inapropriados, que não são do interesse de ninguém".

Um problema maior e óbvio para que se organize algum acordo ou estratégia é o próprio fato de que nem ao menos se sabe o tamanho do buraco, da camuflagem de dívidas, e de que não se conhecem responsáveis pela fraude e seus detalhes.

"Como negociar com alguém que pode ter dado um golpe? Qual a natureza das irregularidades? Tudo isso causa dificuldades e dúvidas jurídicas sobre o processo todo", diz o representante do bancão credor da Americanas. No entanto, uma solução é necessária em dias ou horas.

De resto, o rolo pode seguir por novos caminhos. Reportagem desta Folha mostrou que um terço da dívida bancária da Americanas é com instituições públicas. O papagaio vermelho da companhia com todos os bancos seria de uns R$ 20 bilhões.

O tamanho do problema com as instituições financeiras públicas deve levar o governo para dentro da confusão —vai ser cobrado pelo que fizer a respeito do assunto, de agora em diante, mesmo não tendo tido nada a ver com o rolo.

A situação pode até se complicar, pois tende a haver um tempero político. Assim, o caso deve ser assunto também no Congresso. Por outro lado, pode ser um incentivo para que esse escândalo grosso não termine um acordão e "ajustamento de condutas".

 

2 comentários:

Fernando Carvalho disse...

Quem são os maiores ladrões do mundo? Os bilionários é claro. Tem bilionário bonzinho que gasta dinheiro com causas humanitárias? Tem é claro, mas não invalida o fato de que são os maiores ladrões do mundo. Vejam o tamanho do rombo na Americanas: 20 bilhões. Taí, o BNDESÃO do boçal revelou-se um blefe. Agora surge o tal no âmbito da propriedade privada.

ADEMAR AMANCIO disse...

Pois é...