quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Bruno Boghossian - Lula cutucou uma briga feia

Folha de S. Paulo

Presidente reconhece tamanho do problema que dois órgãos estratégicos representam hoje

Lula cutucou uma disputa que evoluiu de intriga para briga feia entre a Abin e a Polícia Federal. Ao comentar as investigações que miram o órgão de inteligência, o presidente alertou que a PF não deveria fazer "show pirotécnico" em suas ações. Na sequência, o petista se virou para o outro lado e admitiu sua desconfiança em relação à agência.

O excesso de sinceridade do presidente dá conta do tamanho do problema que os dois aparelhos estratégicos representam para o governo. Lula tem hoje uma Polícia Federal que se lançou numa cruzada para derrubar a cúpula da Abin. A chefia da agência, por sua vez, foi contaminada por acusações de arapongagem com fins políticos.

Em cerca de um minuto, o petista fez um diagnóstico bruto sobre a Abin. Disse que "nunca está seguro", afirmou que escolheu um delegado da PF para dirigir a agência porque "não conhecia ninguém" lá dentro e reproduziu a suspeita de que o número dois do órgão atuou para blindar o grupo de Alexandre Ramagem.

Um presidente que descreve assim o departamento de inteligência do governo poderia extingui-lo no dia seguinte. Lula preferiu passar uma mensagem de insatisfação com o órgão que abrigou um braço de espionagem a serviço de Jair Bolsonaro. Além disso, reforçou a percepção de que o bolsonarismo continua presente em postos sensíveis.

O próprio Lula posicionou na guilhotina o pescoço do número dois da Abin. Afirmou que não haveria clima para "esse cidadão" continuar no cargo se fossem comprovadas acusações de obstrução. A demissão saiu no fim do dia. Mas o mesmo Lula segurou os ânimos da PF ao manifestar "muita confiança" em relação ao chefe da agência.

Dentro dessa guerra, as críticas do petista à espetacularização de ações da PF, embora recorrentes, ganham um sentido particular. Num momento em que os investigadores parecem mais do que dispostos a avançar sinais, o presidente tenta, ao menos, evitar novos danos domésticos.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Exatamente.