Folha de S. Paulo
Mudanças nas redes sociais determinadas por dono da Meta são resultado de oportunismo político
Nunca foi a coragem política que caracterizou o comportamento do empresariado
como classe social. Se você é dono de um negócio que pode prosperar ou
naufragar de acordo com decisões tomadas por reguladores, é natural que você
evite indispor-se com as autoridades que controlam esses reguladores. Não é
bonito nem virtuoso, mas não é algo que deva causar surpresa a ninguém.
Mark Zuckerberg, da Meta, não fugiu à lei do oportunismo ao anunciar, às vésperas da posse de Donald Trump, mudanças no sistema de checagem de fatos de suas redes sociais que agradam ao futuro presidente dos EUA. E não se trata de um fato isolado.
Zuckerberg também acaba de colocar Dana
White, um notório trumpista sem qualidades conhecidas para atuar no mundo da
alta tecnologia, no conselho da Meta.
Até pelas motivações de Zuckerberg, penso que
as mudanças vão na prática piorar o ambiente virtual. É claro que seria
desejável evitar a circulação de alguns tipos de inverdade, mas desconfio um
pouco do discurso que atribui a maior parte dos males políticos e sociais que
experimentamos hoje às redes sociais. Acho que as coisas feias que vemos nelas
são mais sintoma do que causa de nossos problemas.
No que diz respeito aos chamados tribunais
secretos, acredito que é Glenn
Greenwald quem mais se aproxima da verdade. O termo
"tribunais secretos" talvez não seja a melhor descrição, mas me
parece que Alexandre de
Moraes e o STF extrapolaram
ao determinar não apenas a desplataformização (não é exatamente censura, mas
lembra) prévia de alguns indivíduos, mas principalmente ao exigir que as
empresas obrigadas a excluir posts dessas pessoas mantivessem a ordem da corte
sob sigilo.
Como cidadão brasileiro residente no Brasil,
preciso cumprir as determinações do Judiciário. O mesmo vale para empresas que
tenham representação no país. Mas, se o STF me obriga a agir de uma forma que
não me é natural ou com a qual não concordo, não pode me impedir, nem moral nem
constitucionalmente, de dizer que eu faço isso por determinação judicial e não
por livre vontade.
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