Folha de S. Paulo
Logo antes da posse, ditador turbinou
aparelho de segurança e direcionou mira para opositores
Logo antes de assumir um novo mandato, Nicolás
Maduro reuniu suas tropas. Durante a semana, o ditador
venezuelano vestiu uma roupa camuflada e discursou para as milícias
bolivarianas, formadas por militares da reserva e civis que atuam a serviço do
chavismo. Depois, ele se encontrou com comandantes das Forças Armadas para
lançar um programa regional de defesa.
Nos dois atos, a tônica de Maduro foi a mesma. Ele acusou a extrema direita fascista de tramar a derrubada de seu regime, com o apoio de governos estrangeiros. Noticiou a prisão de mercenários que estariam envolvidos nesse plano e anunciou o reforço de órgãos armados para, de acordo com suas palavras, defender a soberania do país.
Maduro sabe que não é fácil a vida de um
governante com um mandato ilegítimo, reivindicado após uma eleição com claros
indícios de fraude e marcada pela recusa do regime em apresentar as atas
oficiais de contagem dos votos. A insatisfação de parte dos venezuelanos e a
volta de protestos às ruas do país levaram o ditador a exibir suas armas.
Os sinais emitidos por Maduro indicam que a
posse desta sexta-feira (10) marcará a inauguração de uma etapa adicional de
fechamento do regime. A caracterização de opositores como conspiradores não é
uma novidade em si, mas o ditador decidiu dobrar a aposta num aparelho de
segurança turbinado para intimidar e punir seus adversários.
O quadro exige do Brasil uma postura muito
mais enérgica em relação a episódios de violação de direitos políticos
praticados pelo regime chavista. Preservar os canais diplomáticos, o que inclui
a ida da embaixadora brasileira à posse, será uma ferramenta necessária para
esta missão. O governo Lula, no entanto, deveria reduzir a zero a temperatura
da relação com Maduro.
Os olhos do ditador, a esta altura, estão
voltados para o norte. O perfil imprevisível e os sonhos intervencionistas
manifestados por Donald Trump deixam
o venezuelano em estado de alerta. Num esforço comovente para poupar o
republicano, por enquanto, Maduro atribui as supostas ameaças imperialistas que
cercam seu regime apenas ao governo de Joe Biden.
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