sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

O Lebensraum de Trump - Bernardo Mello Franco

O Globo

Donald Trump ainda não tomou posse, mas já transformou o mundo num lugar mais perigoso. O republicano vai assumir o poder com planos expansionistas. Quer anexar o Canadá, encampar a Groenlândia, tomar o Canal do Panamá.

O presidente eleito dos EUA expôs suas ambições na campanha à Casa Branca. Nesta terça, avisou que pode usar as Forças Armadas para concretizá-las. Em dez dias, ele voltará a comandar o maior arsenal militar do planeta.

Trump disse que a tomada da Groenlândia, território autônomo da Dinamarca, seria uma “necessidade absoluta” dos americanos. Afirmou que o controle do canal panamenho seria “vital” para seu país. As declarações ecoam a ideia de Lebensraum, que teve consequências funestas no século 20.

O conceito de “espaço vital” foi cunhado por Friedrich Ratzel. O geógrafo alemão considerava que grandes potências precisavam ampliar suas fronteiras, mesmo que para isso fosse necessário subjugar outras nações soberanas.

Após a morte do teórico, a tese foi abraçada pelos nazistas. Eles anexaram a Áustria, tomaram um naco da Tchecoslováquia e iniciaram uma marcha para o leste, a pretexto de garantir mais terras para o povo germânico.

Ainda é cedo para dizer se estamos nesse caminho, mas Trump parece ser movido pela mesma pulsão destrutiva. Depois de disparar as declarações bélicas, ele foi às redes sociais e publicou um mapa em que a bandeira americana encobria todo o território do Canadá.

“Você se livra da linha traçada artificialmente e observa como ela fica”, debochou, referindo-se à fronteira entre os dois países. O magnata defendeu rebaixar a nação vizinha, independente desde 1867, à condição de 51º estado dos EUA.

Trump já deixou claro que despreza a democracia e as instituições americanas. Não teria impedimentos para pisotear a soberania e a integridade territorial de outros países, ainda que sejam aliados históricos de Washington.

Embora o republicano seja um falastrão, convém atentar ao que ele diz. No século passado, líderes europeus subestimaram as ameaças de outro populista de ultradireita. Acreditaram que suas provocações e ataques racistas e xenofóbicos não passavam de bravatas. Em 1939, ele invadiu a Polônia, dando início à Segunda Guerra Mundial.

 

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