Valor Econômico
Publicitário tem cobrado agilidade no envio do projeto que amplia isenção do IRPF ao Legislativo
O novo ministro da Secretaria de Comunicação
Social (Secom), Sidônio Palmeira, admitiu a interlocutores que, para além de
sua área, o governo tem mais e maiores problemas a serem enfrentados na longa
jornada até as urnas em 2026. Ele sabe, por exemplo, que um dos principais
entraves para turbinar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é
a alta dos preços dos alimentos.
Nos últimos dias, o publicitário observou, em conversas com interlocutores, que a população “quer menos índices, e mais de carrinho de supermercado”. O próprio Lula e vários ministros têm reiterado declarações comemorando dados positivos da economia, como a expansão do Produto Interno Bruto (PIB), que deve alcançar 3,5% em relação a 2024, ou o índice recorde de desemprego, que atingiu 6,1% no ano passado.
No mundo real, entretanto, tem prevalecido a
máxima preconizada pela economista Maria da Conceição Tavares, um dos ícones do
PT, que faleceu no ano passado. A ex-professora da Unicamp e uma das principais
referências de Lula já ensinou no passado que “o povo não come PIB, come
alimentos”.
Tratando-se de Maria da Conceição Tavares,
nem Lula nem o titular da Fazenda, Fernando Haddad, podem alegar que faltaram a
essa aula. Na prática, de nada adianta o otimismo dos números se eles não
traduzem a realidade. O crescimento do PIB não tem ajudado a encher o carrinho
de supermercado dos brasileiros porque a escalada dos preços dos alimentos
extrapolou o índice geral da inflação.
De acordo com o IBGE, a inflação acumulada
nos últimos 12 meses, até novembro, foi de 4,87%. Contudo, segundo o mesmo
instituto, somente a inflação da carne, no mesmo período, atingiu 15,43% -
quase quatro vezes a mais. Uma explicação para isso seria o maior volume de
exportações, que reduziu a oferta do produto no mercado doméstico.
Um agravante é que o preço salgado da carne,
além de deixar o gosto amargo para o consumidor, oferece artilharia pesada para
a oposição. Na campanha de 2022 - coordenada pelo próprio Sidônio - Lula
prometeu que o povo teria novamente churrasco, com “picanha e cerveja”, nos
fins de semana. De fato, o preço da carne caiu entre 2023 e meados de 2024, mas
a alegria do pobre durou pouco.
Outra agrura da gestão Lula 3, na visão de
lideranças do PT, a ser enfrentada pelo publicitário é a falta de um “projeto
de país”. Nos bastidores, o próprio Sidônio observou a interlocutores que o
governo não tem uma marca, enquanto os mandatos anteriores do petista acumulam
símbolos, como o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida (MCMV) e o Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC).
“Nossas marcas até agora são um arcabouço
fiscal e o Pé de Meia”, queixou-se um petista influente em conversa com a
coluna. Uma reclamação corrente entre vários petistas recai sobre Fernando
Haddad, que na visão desses críticos só vai a público defender ajuste fiscal e
corte de gastos. “Ele raramente fala em desenvolvimento econômico”, acrescentou
a fonte. Para complicar o cenário, num momento em que um dos principais
desafios é lidar com a alta dos preços dos alimentos, o governo anuncia um
reajuste menor do salário mínimo.
Nesse contexto, Sidônio tem sido um dos mais
entusiasmados defensores da aprovação, o quanto antes, do projeto de lei que
amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem recebe até R$ 5
mil. A avaliação é que o gesto pode se consolidar como uma das marcas da gestão
Lula 3, ao mesmo tempo em que alcançaria uma fatia da população com maiores
índices de desaprovação do governo.
Nos bastidores, o publicitário tem cobrado
agilidade no envio do projeto ao Legislativo, a fim de dar largada,
paralelamente, nas peças de propaganda sobre a proposta. Lideranças do
Congresso já declararam que o projeto enfrentará obstáculos se o governo não
comprovar a “neutralidade fiscal” da expansão da faixa de isenção.
Ainda assim, a ala política do governo
acredita que a pressão da opinião pública a favor da matéria constrangerá os
parlamentares que se arriscarem a fazer oposição à proposta, que pode
beneficiar, pelo menos, 28 milhões de brasileiros.
Simultaneamente, caberá ao novo titular da
Secom tourear a onda crescente de “fake news” tendo como alvo principal a
economia. As mais recentes, disseminadas nas redes sociais, diziam que Haddad
iria taxar os Pix acima de R$ 5 mil e limitar os saques a R$ 1,5 mil.
O desafio mais sensível de Sidônio, contudo,
talvez seja o próprio Lula, que tem se revelado incapaz de conter os
improvisos, que na maioria das vezes, transformam-se em gafes. Por exemplo, o
ex-presidente Jair Bolsonaro já provocou, em seus perfis, que um presidente que
defende as amantes não pode se investir no papel de chefe da família
brasileira. Na cerimônia de 8 de janeiro, Lula afirmou que, em geral, “os
maridos são mais apaixonados pela amante do que pelas mulheres”.
Lula tem acumulado gafes em relação às
mulheres. Em julho do ano passado, citou uma pesquisa segundo a qual, após os
jogos de futebol, aumentava a violência contra mulheres. Na sequência, afirmou:
“Se o cara é corintiano, tudo bem, mas eu não fico nervoso quando perco”. Para
falar em pescaria, hobby de Lula, Sidônio terá de cuidar para o peixe não
morrer pela boca.
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