segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Vinicius Mota: Da Áustria contra o autoritarismo

- Folha de S. Paulo

Intelectuais nascidos há mais de cem anos advertiram sobre ameaças à liberdade individual

Parte da turma que assume o governo federal nesta terça admira uma linhagem de acadêmicos nascidos no Império Austro-Húngaro entre o final do século 19 e o início do 20, entre eles Ludwig von Mises (1881-1973), Friedrich Hayek (1899-1992) e Karl Popper (1902-1994).

Em comum, além da defesa intransigente do liberalismo econômico, eles professaram lições importantes contra a tirania, seja a dos poderosos, seja a dos próprios intelectuais.

É uma pena que, rebaixados pelo marxismo dominante, seus principais escritos tenham circulado pouco aqui. Menosprezaram-se alguns rebentos do Iluminismo, como estes:

1. O mecanismo que faz os homens cooperarem no mundo moderno é essencialmente complexo e não pode ser apreendido pelo intelecto mais treinado, a não ser em contornos grosseiros. Por isso o desfecho dos processos históricos e sociais se reveste de crônica indeterminação.

2. Não há doutrina “científica” eficaz aplicável ao juízo político. A passagem dos especialistas, inclusive militares, e dos intelectuais para o governo deveria ser vista com cautela, para que a autoridade adquirida em campos específicos não se transforme em verniz do arbítrio.

3. A escala de valores do indivíduo, que determina suas escolhas, não pode ser substituída pela de outra pessoa, que é diversa. Tampouco um ente coletivo a suprirá. Quando o governo invade o domínio das decisões particulares —e dita padrões de produção, consumo, opinião ou conduta—, incide em autoritarismo.

4. A boa norma é simples, impessoal e instrumental. Pela proliferação descontrolada de regulamentos e burocratismos se estabelecem de antemão vencedores e vencidos no jogo econômico e social. O efeito, para os indivíduos e as organizações tolhidos em sua liberdade de ação, pode ser similar ao do despotismo.

5. Integra o ânimo propagandístico autoritário, escreveu Hayek, despojar as palavras “de qualquer significado preciso, podendo designar tanto uma coisa como o seu oposto”.

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