Zuenir Ventura
DEU EM GLOBO
Pensando bem, acho que foi melhor para o Gabeira. Eleito, além de governar a cidade, ele teria a difícil tarefa de administrar a esperança e o sonho de seus eleitores. Já o seu oponente passará os próximos quatro anos pagando promessas. Elas são mais de 80, 20 por ano, quase duas por mês, e tudo debaixo da cobrança implacável de pelo menos metade do município. A vitória política do candidato verde foi bem maior do que a apertada derrota eleitoral. Só por fazer renascer no jovem a motivação política, ele já seria vitorioso. Mas, além disso, inaugurou uma nova maneira de fazer campanha eleitoral, recuperando valores éticos que pareciam fora de moda como sinceridade, transparência e limpeza, não só material.
Ao comemorar a vitória, Eduardo Paes elogiou a "lealdade" do adversário. Nem sempre houve reciprocidade. Inteligente e articulado, sua campanha não precisava ter apelado para golpes baixos como os folhetos apócrifos e o uso da máquina governamental. No debate da TV Globo, chegou a ser patética a obsessão com que trazia Cesar Maia para a cena, lembrando curiosamente em estilo e retórica o próprio personagem citado. Aquele espetáculo de criatura se voltando contra o criador com tamanha fixação só Freud explica. Às vezes deixava de mimetizar Maia para lembrar o Garotinho das pegadinhas e cascas de banana. Foi pena. A disputa poderia ter sido exemplar. Livre do risco maior no primeiro turno, a cidade ficou mais à vontade para escolher entre dois candidatos que a rigor tinham idéias e propostas de governo que se equivaliam. A diferença era de estilo e atitude. Houve quem tivesse votado em Paes não por rejeição a Gabeira, mas por achar que o candidato do PMDB era "o mais bem preparado", como ele próprio anunciava e agora vai ter que provar.
Eduardo Paes tem tudo para fazer um bom governo - e para fazer um governo ruim. Por um lado, deverá ter o que tanto apregoou - a parceria dos governos federal e estadual - e competência administrativa. Por outro lado - e esse será o seu grande desafio -, vários de seus apoios, alianças e ligações representam o lado, digamos, menos nobre da política carioca. Como resistir à pressão deles? A fatura será apresentada. Essa gente não brinca em serviço.
A esperança é que, aos 38 anos, ambicioso e com um futuro promissor, o jovem prefeito saiba escolher entre continuar uma tradição de governantes que saem do poder para o lixo da História, ou começar uma nova era. Na sua primeira aparição como prefeito, Paes prometeu que a partir do dia seguinte iria unir a "cidade partida" - que já era partida socialmente e agora é politicamente. Foi mais uma promessa, a primeira como prefeito, a 84ª da série. Estaremos na torcida para que seja cumprida.
DEU EM GLOBO
Pensando bem, acho que foi melhor para o Gabeira. Eleito, além de governar a cidade, ele teria a difícil tarefa de administrar a esperança e o sonho de seus eleitores. Já o seu oponente passará os próximos quatro anos pagando promessas. Elas são mais de 80, 20 por ano, quase duas por mês, e tudo debaixo da cobrança implacável de pelo menos metade do município. A vitória política do candidato verde foi bem maior do que a apertada derrota eleitoral. Só por fazer renascer no jovem a motivação política, ele já seria vitorioso. Mas, além disso, inaugurou uma nova maneira de fazer campanha eleitoral, recuperando valores éticos que pareciam fora de moda como sinceridade, transparência e limpeza, não só material.
Ao comemorar a vitória, Eduardo Paes elogiou a "lealdade" do adversário. Nem sempre houve reciprocidade. Inteligente e articulado, sua campanha não precisava ter apelado para golpes baixos como os folhetos apócrifos e o uso da máquina governamental. No debate da TV Globo, chegou a ser patética a obsessão com que trazia Cesar Maia para a cena, lembrando curiosamente em estilo e retórica o próprio personagem citado. Aquele espetáculo de criatura se voltando contra o criador com tamanha fixação só Freud explica. Às vezes deixava de mimetizar Maia para lembrar o Garotinho das pegadinhas e cascas de banana. Foi pena. A disputa poderia ter sido exemplar. Livre do risco maior no primeiro turno, a cidade ficou mais à vontade para escolher entre dois candidatos que a rigor tinham idéias e propostas de governo que se equivaliam. A diferença era de estilo e atitude. Houve quem tivesse votado em Paes não por rejeição a Gabeira, mas por achar que o candidato do PMDB era "o mais bem preparado", como ele próprio anunciava e agora vai ter que provar.
Eduardo Paes tem tudo para fazer um bom governo - e para fazer um governo ruim. Por um lado, deverá ter o que tanto apregoou - a parceria dos governos federal e estadual - e competência administrativa. Por outro lado - e esse será o seu grande desafio -, vários de seus apoios, alianças e ligações representam o lado, digamos, menos nobre da política carioca. Como resistir à pressão deles? A fatura será apresentada. Essa gente não brinca em serviço.
A esperança é que, aos 38 anos, ambicioso e com um futuro promissor, o jovem prefeito saiba escolher entre continuar uma tradição de governantes que saem do poder para o lixo da História, ou começar uma nova era. Na sua primeira aparição como prefeito, Paes prometeu que a partir do dia seguinte iria unir a "cidade partida" - que já era partida socialmente e agora é politicamente. Foi mais uma promessa, a primeira como prefeito, a 84ª da série. Estaremos na torcida para que seja cumprida.
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