Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
A dinâmica eleitoral obedece mais ou menos à lógica das escolas de samba: quando um carnaval termina, os barracões engatam de imediato os preparativos para o próximo desfile.
Os principais partidos, PT, PSDB e PMDB, estão assim. Os ossos ainda nem foram contados, as feridas estão quase todas abertas, há cadáveres mal sepultos por todo lado, mas a próxima eleição já põe os três em estado de total estica e puxa.
Na realidade, petistas esticam e tucanos puxam, porque o PMDB, tranqüilo, tamborila sobre a mesa (de negociações?) os dedos da vitória como quem diz, ao molde do velho ACM, que eleição sem ele agora mesmo é que não vale.
E não se fala aqui apenas da presidencial, pois o partido está com tudo também nas disputas pelo comando da Câmara e do Senado. Com uma diferença crucial: no Legislativo ambiciona à ocupação das presidências, enquanto no Executivo pretende continuar sendo um coadjuvante mais e mais privilegiado.
Quem ouvir um pemedebista falando em candidatura própria para 2010 estará diante de um ilusionista ou de uma voz isolada. No conjunto, o interesse partidário é se firmar no lugar de parceiro cobiçado pelas forças de governo e oposição, ficando assim nesse lá e cá alternando desequilíbrios ao sabor das melhores circunstâncias.
Não adianta cobrar nem tentar adivinhar definições desde já. Oficialmente, o PMDB continua um parceiro fidelíssimo do governo Luiz Inácio da Silva, entre outros motivos porque não há razão para abrir mão de dois anos de proveitosa convivência com o poder.
Situação que não o impede de conversar com tudo e todos, se aliar ora com um ora com outro sem sofrer por causa disso nenhum tipo de admoestação nem correr qualquer risco de perder seus postos federais.
O presidente do PT, Ricardo Berzoini, tentou até simular autoridade sobre o companheiro de aliança quando pede a petistas e pemedebistas que tenham “juízo” na manutenção de uma política de boa vizinhança. Pura cena. Se alguém precisa de bom senso é o PT para não se atritar com o PMDB mais do que já se atritou na eleição municipal.
Em caso de dúvida, basta lembrar que foi o PMDB e não o PT quem impôs ao presidente Lula o roteiro dos palanques proibidos durante a campanha e, no fim, ainda comemorou junto com o PSDB a acachapante derrota sofrida pelo PT em São Paulo, enquanto o Palácio do Planalto assistia a tudo bem calado.
Não por gesto de espontânea elegância, mas por absoluta falta de alternativa.
Correção de rumo
Os receios sobre os efeitos eleitorais da crise financeira de modo geral se justificam. Só extrapolam o limite do razoável quando dão às dificuldades um caráter de ineditismo.
Nos últimos anos, o Brasil só passou por eleições em ambiente de tranqüilidade na economia em 2006. Em 1994 o Plano Real era um experimento, em 1998 a política econômica foi virada do avesso, em 2002 a vitória próxima do PT fez retroceder os bons indicadores e, antes disso, a inflação presidiu todos os pleitos.
De dois dias para cá, o governo federal caprichou no pessimismo em relação aos efeitos da crise. Como nada aconteceu de novo nesse meio tempo, parece estratégia para inversão de expectativas, fruto do evidente mau conselho dado pelo excesso de otimismo em relação ao resultado das eleições municipais.
Infalível
Muito mais significativo que listas de vencedores e vencidos - cuja validade depende das circunstâncias - é o efeito de vitórias e derrotas sobre determinadas situações partidárias.
O fracasso de Marta Suplicy fez desaparecer aquele clima de carinho da primeira fase da campanha em que a então candidata exibia contente o “companheiro Lula” como o melhor cabo eleitoral para chamar de seu.
Hoje o ambiente é de puro fel, com troca de acusações e caça a culpados inexistentes quando Marta saía pelas ruas cantando e dançando, confiante, ironizando as brigas internas no campo adversário, indiferente ao enorme índice de rejeição que já lhe dava notícias sobre as agruras a serem produzidas pelas urnas.
Do lado contrário, o sucesso de Gilberto Kassab deu sumiço às animosidades entre os tucanos que durante mais de seis meses produziram um espetáculo de autofagia cheio de cenas de insultos, mau-caratismo, cinismo, cobiça, traição e zero grau de compostura.
Agora o recinto recende a mel. Todos são amigos, defensores empedernidos de Kassab, seguidores fiéis da candidatura José Serra, analistas de primeira hora sobre “o inequívoco” fortalecimento do governador de São Paulo, até outro dia alvo de criteriosa desqualificação por parte dos mesmos personagens.
Mais que inerente à atividade política, o oportunismo é atinente à natureza humana. E esta, se por vezes tarda, nunca falha.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
A dinâmica eleitoral obedece mais ou menos à lógica das escolas de samba: quando um carnaval termina, os barracões engatam de imediato os preparativos para o próximo desfile.
Os principais partidos, PT, PSDB e PMDB, estão assim. Os ossos ainda nem foram contados, as feridas estão quase todas abertas, há cadáveres mal sepultos por todo lado, mas a próxima eleição já põe os três em estado de total estica e puxa.
Na realidade, petistas esticam e tucanos puxam, porque o PMDB, tranqüilo, tamborila sobre a mesa (de negociações?) os dedos da vitória como quem diz, ao molde do velho ACM, que eleição sem ele agora mesmo é que não vale.
E não se fala aqui apenas da presidencial, pois o partido está com tudo também nas disputas pelo comando da Câmara e do Senado. Com uma diferença crucial: no Legislativo ambiciona à ocupação das presidências, enquanto no Executivo pretende continuar sendo um coadjuvante mais e mais privilegiado.
Quem ouvir um pemedebista falando em candidatura própria para 2010 estará diante de um ilusionista ou de uma voz isolada. No conjunto, o interesse partidário é se firmar no lugar de parceiro cobiçado pelas forças de governo e oposição, ficando assim nesse lá e cá alternando desequilíbrios ao sabor das melhores circunstâncias.
Não adianta cobrar nem tentar adivinhar definições desde já. Oficialmente, o PMDB continua um parceiro fidelíssimo do governo Luiz Inácio da Silva, entre outros motivos porque não há razão para abrir mão de dois anos de proveitosa convivência com o poder.
Situação que não o impede de conversar com tudo e todos, se aliar ora com um ora com outro sem sofrer por causa disso nenhum tipo de admoestação nem correr qualquer risco de perder seus postos federais.
O presidente do PT, Ricardo Berzoini, tentou até simular autoridade sobre o companheiro de aliança quando pede a petistas e pemedebistas que tenham “juízo” na manutenção de uma política de boa vizinhança. Pura cena. Se alguém precisa de bom senso é o PT para não se atritar com o PMDB mais do que já se atritou na eleição municipal.
Em caso de dúvida, basta lembrar que foi o PMDB e não o PT quem impôs ao presidente Lula o roteiro dos palanques proibidos durante a campanha e, no fim, ainda comemorou junto com o PSDB a acachapante derrota sofrida pelo PT em São Paulo, enquanto o Palácio do Planalto assistia a tudo bem calado.
Não por gesto de espontânea elegância, mas por absoluta falta de alternativa.
Correção de rumo
Os receios sobre os efeitos eleitorais da crise financeira de modo geral se justificam. Só extrapolam o limite do razoável quando dão às dificuldades um caráter de ineditismo.
Nos últimos anos, o Brasil só passou por eleições em ambiente de tranqüilidade na economia em 2006. Em 1994 o Plano Real era um experimento, em 1998 a política econômica foi virada do avesso, em 2002 a vitória próxima do PT fez retroceder os bons indicadores e, antes disso, a inflação presidiu todos os pleitos.
De dois dias para cá, o governo federal caprichou no pessimismo em relação aos efeitos da crise. Como nada aconteceu de novo nesse meio tempo, parece estratégia para inversão de expectativas, fruto do evidente mau conselho dado pelo excesso de otimismo em relação ao resultado das eleições municipais.
Infalível
Muito mais significativo que listas de vencedores e vencidos - cuja validade depende das circunstâncias - é o efeito de vitórias e derrotas sobre determinadas situações partidárias.
O fracasso de Marta Suplicy fez desaparecer aquele clima de carinho da primeira fase da campanha em que a então candidata exibia contente o “companheiro Lula” como o melhor cabo eleitoral para chamar de seu.
Hoje o ambiente é de puro fel, com troca de acusações e caça a culpados inexistentes quando Marta saía pelas ruas cantando e dançando, confiante, ironizando as brigas internas no campo adversário, indiferente ao enorme índice de rejeição que já lhe dava notícias sobre as agruras a serem produzidas pelas urnas.
Do lado contrário, o sucesso de Gilberto Kassab deu sumiço às animosidades entre os tucanos que durante mais de seis meses produziram um espetáculo de autofagia cheio de cenas de insultos, mau-caratismo, cinismo, cobiça, traição e zero grau de compostura.
Agora o recinto recende a mel. Todos são amigos, defensores empedernidos de Kassab, seguidores fiéis da candidatura José Serra, analistas de primeira hora sobre “o inequívoco” fortalecimento do governador de São Paulo, até outro dia alvo de criteriosa desqualificação por parte dos mesmos personagens.
Mais que inerente à atividade política, o oportunismo é atinente à natureza humana. E esta, se por vezes tarda, nunca falha.
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