quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Belo Horizonte em três tempos

Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
DEU NO ESTADO DE MINAS

Nunca tínhamos tido algo parecido. Pelo menos, que se tenha registro. Foram três grandes “ondas”, às quais corresponderam três processos de ascensão e queda da candidatura de Márcio Lacerda e, no segundo turno, de Leonardo Quintão

Muito ainda vai se falar sobre as eleições de Belo Horizonte este ano, como foram e o que significaram. É cedo para fazer uma avaliação mais detida, mas algumas coisas podem ser desde logo apontadas.

A mais curiosa é que ela terminou exatamente da maneira que se imaginava lá atrás, quando ela mal tinha começado para a opinião pública. Um observador que tivesse viajado para bem longe e permanecido sem informações de maio até domingo não teria nenhuma surpresa, ao saber que Márcio Lacerda venceu a eleição com cerca de 60% dos votos válidos.

Contando com o apoio de Aécio e de Pimentel, era isso mesmo que se esperava. Sua votação foi, por exemplo, proporcionalmente igual ou até maior que a obtida por Patrus Ananias em 1992 (que teve 59%) e que a de Célio de Castro em 2000 (com 58%). Só foi menor que a de Célio em 1996 e a de Pimentel em 2004. Note-se, aliás, que essa foi a única eleição na cidade que se resolveu em um turno, pois tanto Patrus, quanto Célio (por duas vezes) tiveram que passar por um segundo turno, como Márcio.

Mais curioso, no entanto, é que o previsível só aconteceu depois de algumas oscilações espetaculares, como não se conheciam na história eleitoral brasileira. Em eleições maiores, para prefeito de cidades grandes e capitais, governador e presidente, nunca tínhamos tido algo parecido. Pelo menos, que se tenha registro.

Foram três grandes “ondas”, às quais corresponderam três processos de ascensão e queda da candidatura de Márcio Lacerda e, no segundo turno, de Leonardo Quintão.

Nas primeiras semanas de campanha, de julho a agosto, nada aconteceu. Lacerda permaneceu em um discreto terceiro lugar nas pesquisas, lideradas por Jô Morais e pelo candidato do PMDB. Do dia 19 de agosto em diante, quando começou a propaganda eleitoral na TV e no rádio, tudo começou a mudar, em alta velocidade.

A subida de Lacerda, de menos de 10%, para a liderança das pesquisas, foi questão de dias. Já no dia 24, quando alcançou 32% das intenções de voto, ele tinha mais que a soma de seus adversários. E continuou subindo, até chegar a 45% no final da primeira semana de setembro.

Ou seja, em pouco mais de 15 dias ele passou de 10% a 45%, em um crescimento mais veloz e mais intenso que qualquer candidato nas eleições brasileiras que conhecemos. Nesse patamar, que representava pouco mais que 60% dos votos válidos, ele estacionou, lá permanecendo até por volta do dia 25 do mês passado.

Nos 30 dias entre essa data e o dia do segundo turno, a eleição de Belo Horizonte viveu uma espécie de montanha-russa, com subidas e descidas vertiginosas. Em forte crescimento, Quintão chegou ao dia 5 de outubro colado em Lacerda e continuou subindo, alcançando o patamar de mais de 60% dos votos válidos no dia 8. Lá ficou por cerca de uma semana, até faltarem menos de 10 dias para a eleição. Era o exato inverso da situação de um mês antes, na primeira quinzena de setembro, quando era Lacerda quem tinha 60% do válido.

A segunda “onda”, a de Quintão, foi forte, mas foi breve. Ela subiu em pouco mais de uma semana e se desfez logo em seguida. Uma campanha mais organizada de Márcio Lacerda, seu novo posicionamento na propaganda, sua presença mais afirmativa, somadas à mobilização daqueles que não desejavam Quintão na prefeitura fizeram com que outra “onda” se formasse.

A oito dias do segundo turno, Lacerda ainda estava com apenas 40% dos válidos, a uma distância de 20 pontos percentuais de seu adversário. Dia a dia, a diferença foi caindo, até que o quadro fosse novamente invertido, desta vez a seu favor. O “x”, como se diz na gíria do automobilismo, aconteceu quando faltavam três ou quatro dias para a eleição.

A terceira “onda”, a arremetida final de Márcio Lacerda, foi mais rápida que seu crescimento inicial, em agosto. Ganhou (ou reconquistou) até cinco pontos ao dia, chegando aos 60% que obteve domingo.

Voltou, assim, ao ponto ao qual todos achavam que chegaria. Para ele, a eleição foi um percurso emocionante, de alcançar, perder e voltar a um mesmo lugar. Quando lá chegou de novo, tinha, no entanto, se transformado em outro candidato, em que as pessoas se sentiam mais à vontade para votar. Sucesso a Márcio Lacerda!

Um comentário:

Javier disse...

Olá. Perdão meu mau português, ajudei-me de um dicionário mas não controlo o idioma. Sou um estudante espanhol, e senti-me muito admirado por sua biografia, de luta pela democracia e direitos humanos. Quero expressar-lhe minha admiração e felicitar-lhe por este interessante blog. Um saúdo.