DEU EM O GLOBO
Vendo e revendo os incríveis vídeos de Brasília, é inevitável o espanto de se ter mais um mensalão. Depois de tudo o que aconteceu em 2005, quando estourou o escândalo do PT, manchando uma até então bela história de 25 anos (e sem falar no do PSDB mineiro), acreditava-se que, quando nada por precaução, nenhum partido iria repetir o episódio, pelo menos em igual escala e desplante. Pois a reprise veio em dose maior, quanto ao volume de dinheiro e à visibilidade.
Em matéria de cinismo e de humor involuntário, o mensalão do DEM — ou DEMsalão, como está sendo chamado — apresentou novos ingredientes que transformaram o que deveria ser um drama moral num impagável pastelão, com cada personagem mais cara de pau do que o outro.
Não há como não rir das desculpas esfarrapadas como as do advogado do governador alegando que o dinheiro arrecadado era para comprar panetones (o que provocou um “haja panetones!” do ministro Ayres Britto, do STF). Igualmente hilária foi a cena do presidente da Câmara Legislativa tentando esconder meio desajeitado maços de dinheiro por todo o corpo, inclusive nas meias, por medida de segurança: “Eu não uso pasta.” Vejam se não parece piada ele se chamar Leonardo Prudente.
Mais prático foi o empresário Alci Colaço, que usou a cueca. E o espetáculo da oração da propina? Nem um grande humorista conseguiria inventar um número como o daqueles três cínicos agradecendo a Deus por Durval, “bênção em nossas vidas” (o Senhor não deve ter ouvido, porque a “bênção” saiu pela culatra e virou castigo). Diante desse quadro, o desânimo atinge até figuras como o senador Pedro Simon, peça ímpar de resistência moral.
No debate do GLOBO, ele manifestou todo o seu ceticismo. Acha que não se deve esperar nada do Congresso. Só a mobilização popular seria capaz de mudar a situação. Seu desencanto é maior devido ao fato de que até “24 horas antes” ele era fã do governador José Roberto Arruda, considerado “um administrador exemplar”, com 75% de aprovação popular.
A socióloga Maria Aparecida Fenizola, porém, defende a tese de que a corrupção não aumentou, “apenas ficou mais transparente e nós, mais informados”. De fato, graças à moderna tecnologia audiovisual, é mais difícil esconder as trapaças. As chances de serem descobertas são muito maiores hoje. Isso é confirmado pela ONG Transparência Internacional, segundo a qual o Brasil melhorou cinco pontos no ranking geral, passando da 80ª posição em 2008 para a 75ª de agora, com um índice de 3,7 numa escala de 10. Na verdade, o nosso problema maior é a impunidade.
Basta ver o que aconteceu com os personagens dos mensalões passados. Algum está preso?
Assim como os outros, o escândalo de agora corre o risco de terminar em pizza. Ou em panetone.
Vendo e revendo os incríveis vídeos de Brasília, é inevitável o espanto de se ter mais um mensalão. Depois de tudo o que aconteceu em 2005, quando estourou o escândalo do PT, manchando uma até então bela história de 25 anos (e sem falar no do PSDB mineiro), acreditava-se que, quando nada por precaução, nenhum partido iria repetir o episódio, pelo menos em igual escala e desplante. Pois a reprise veio em dose maior, quanto ao volume de dinheiro e à visibilidade.
Em matéria de cinismo e de humor involuntário, o mensalão do DEM — ou DEMsalão, como está sendo chamado — apresentou novos ingredientes que transformaram o que deveria ser um drama moral num impagável pastelão, com cada personagem mais cara de pau do que o outro.
Não há como não rir das desculpas esfarrapadas como as do advogado do governador alegando que o dinheiro arrecadado era para comprar panetones (o que provocou um “haja panetones!” do ministro Ayres Britto, do STF). Igualmente hilária foi a cena do presidente da Câmara Legislativa tentando esconder meio desajeitado maços de dinheiro por todo o corpo, inclusive nas meias, por medida de segurança: “Eu não uso pasta.” Vejam se não parece piada ele se chamar Leonardo Prudente.
Mais prático foi o empresário Alci Colaço, que usou a cueca. E o espetáculo da oração da propina? Nem um grande humorista conseguiria inventar um número como o daqueles três cínicos agradecendo a Deus por Durval, “bênção em nossas vidas” (o Senhor não deve ter ouvido, porque a “bênção” saiu pela culatra e virou castigo). Diante desse quadro, o desânimo atinge até figuras como o senador Pedro Simon, peça ímpar de resistência moral.
No debate do GLOBO, ele manifestou todo o seu ceticismo. Acha que não se deve esperar nada do Congresso. Só a mobilização popular seria capaz de mudar a situação. Seu desencanto é maior devido ao fato de que até “24 horas antes” ele era fã do governador José Roberto Arruda, considerado “um administrador exemplar”, com 75% de aprovação popular.
A socióloga Maria Aparecida Fenizola, porém, defende a tese de que a corrupção não aumentou, “apenas ficou mais transparente e nós, mais informados”. De fato, graças à moderna tecnologia audiovisual, é mais difícil esconder as trapaças. As chances de serem descobertas são muito maiores hoje. Isso é confirmado pela ONG Transparência Internacional, segundo a qual o Brasil melhorou cinco pontos no ranking geral, passando da 80ª posição em 2008 para a 75ª de agora, com um índice de 3,7 numa escala de 10. Na verdade, o nosso problema maior é a impunidade.
Basta ver o que aconteceu com os personagens dos mensalões passados. Algum está preso?
Assim como os outros, o escândalo de agora corre o risco de terminar em pizza. Ou em panetone.
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