Cientistas políticos consideram que a presidente perdeu autoridade com a intervenção do ex-presidente Lula no casa Palocci, mas alguns acham que isso terá pouco efeito no eleitorado.
Interferência de Lula expõe fragilidade política de Dilma
Estudiosos veem riscos na ação de ex-presidente para aplacar crise política gerada pelas denúncias contra o ministro Palocci
Gabriel Manzano
A intervenção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para superar a crise do governo, durante a semana, evidenciou as dificuldades de Dilma Rousseff para gerir conflitos, o que prejudica sua imagem de boa administradora. Essa é a avaliação de cientistas políticos ouvidos pelo Estado - ainda que, para alguns, o eleitorado possa considerar isso normal e até legitimar a ação de Lula.
"O benefício é de curtíssimo prazo. No longo, Dilma simplesmente perdeu a autoridade e o custo será gigantesco", resume Amaury de Souza, do Instituto de Estudos do Trabalho e da Sociedade, Iets, no Rio. "O fato é que Lula não tem nenhum mandato, é um elemento perturbador, que entrou falando em nome próprio", acrescenta.
Com ele concorda José Álvaro Moisés, da USP. A ação de Lula "foi algo inteiramente fora do ponto", define Moisés. "Ao ocupar o centro da cena, do modo como fez, ele projetou a debilidade da liderança da presidente."
Amaury de Souza acredita que Dilma "jogou pela janela" os cinco meses de benefício da dúvida que o País lhe concedeu. "O episódio bate em sua imagem como grande administradora", pondera, juntando os estragos causados pelo Código Florestal, os ganhos pessoais do ministro Antonio Palocci e a negociação da cartilha anti-homofóbica do MEC. "Agora há dúvidas quanto à sua capacidade de orientar o governo. E ela tem pela frente três anos e meio de governo".
Souza e Moisés também veem, na ação de Lula, uma certa intenção de "deixar o recado" de que, se ela não está preparada para governar, "ele está aí para retornar". Souza até arrisca afirmar que Lula "já descobriu que o povo esquece rápido, não gostou e quer ser lembrado".
"Normal". Para o cientista político Humberto Dantas, porém, "tudo depende de como o público vai olhar para isso". O eleitorado de Dilma "votou no prolongamento do governo Lula. Para esses cidadãos, o que ocorreu é o esperado". Falta saber, acrescenta, "como a oposição vai tratar o caso. Ela pode se calar se perceber que a sociedade legitima o episódio".
O diretor do Eurasia Group, Christopher Garman, fica a meio caminho. "A entrada de Lula revela, sim, certa fragilidade da base aliada do governo. Mas não é o mesmo que dizer que a atuação de Lula enfraquece Dilma". Ele admite, no entanto, que ela "precisa mostrar mais tato para se relacionar com sua base".
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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