O governador do Ceará, Cid Gomes, acaba de defender a volta de Lula ao poder. Em entrevista ao programa "É Notícia", da RedeTV!, disse ao jornalista Kennedy Alencar: "Se eu fosse a Dilma, faria tudo para estar bem em 2014 e convidaria Lula para ser o candidato".
Seria, segundo o irmão de Ciro Gomes, uma "forma de gratidão" por parte de quem "se elegeu pela força de Lula". Vindas de um expoente do PSB, um partido aliado, são palavras que corroem a presidente. São também palavras que dizem muito mais sobre junho de 2010 do que sobre outubro de 2014.
O que motivaria Cid? A disputa com o PMDB por espaço no poder, muito provavelmente. Mas, além disso, o governador é o primeiro a vocalizar algo que está na cabeça e tem orientado o comportamento de muita gente graúda na base aliada.
Michel Temer e seu PMDB, o governador Eduardo Campos (PE) e o próprio Lula, cada um com seus interesses, se movimentam politicamente a partir da premissa tácita de que Dilma tem prazo de validade.
Com a oposição desdentada, o problema da presidente passa a ser a aposta dos "amigos" da onça que a veem como uma líder vulnerável ou uma governante "de transição".
Estava escrito desde o início que os inimigos reais de Dilma estavam no interior do bloco governista. O que há de novo é a explicitação disso com apenas seis meses de mandato. Tudo em política é reversível, obviamente, mas a passagem sem escalas da lua de mel para o envelhecimento precoce é gritante.
Note-se que há um descompasso entre o ambiente político envenenado e a popularidade de Dilma, que segue alta. Muito embora a deterioração das expectativas em relação à economia, captada agora pelo Datafolha, seja um bom termômetro de que a aprovação à presidente pode declinar mais adiante.
É cedo para falar em "sarneyzação". E pessoalmente Dilma é muito superior. Mas este consórcio de poder "articulado" por Temer e Ideli Salvatti não anuncia tempo bom.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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