Em 2006, homem forte da economia e do governo, Antonio Palocci caiu do Ministério da Fazenda 13 dias após a denúncia de quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Agora, resistiu durante 23 dias à suspeita de enriquecimento ilícito. O que não significa dizer que o chefe da Casa Civil de 2011 era tão ou mais forte que o ministro da Fazenda de 2006. A crônica da queda está por ser escrita.
O chão fugiu aos pés de Palocci no momento em que o chefe da Casa Civil parecia recuperar o fôlego, quando a Procuradoria-Geral da República veio pela segunda vez em seu socorro e divulgou parecer segundo o qual nada detectara que sugerisse crime na evolução de seu patrimônio pessoal, multiplicado por 20 no prazo de apenas quatro anos.
A queda de Palocci, em 2011, foi mais fácil que a de 2006, muito embora a crise agora tenha se estendido por um período de tempo maior.
Em 2006, ainda no calor da crise do mensalão e nas imediações das eleições presidenciais, a saída de Palocci do Ministério da Fazenda parecia um salto no escuro para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já então candidatíssimo à reeleição.
Demissão de Palocci diz muito da natureza da atual presidente
Lula defendeu e segurou o ministro enquanto isso foi possível sem ameaçar seus planos eleitorais. Dilma deixou o ministro, "parceiro de lutas" e artífice de sua eleição, como disse, exposto por mais tempo. A presidente não queria entregar a cabeça de um auxiliar situado em um posto-chave com apenas cinco meses de governo - uma humilhação, mesmo diante de oposição enfraquecida.
Não houve, no período, uma defesa robusta e pública do auxiliar feita pela presidente. O PT, sob nova gestão, tirou o time de campo, embora defendesse, sem veemência, as explicações do ex-ministro.
É bem verdade que Dilma se emocionou na solenidade que marcou a posse da senadora Gleisi Hoffmann e a despedida de Antonio Palocci da Casa Civil. Mas o ex-ministro saiu como se fosse um "candidato natural" à demissão e não o todo poderoso chefe da Casa Civil, de longe o mais importante ministério da República, cujo titular em geral mantém convivência permanente e cúmplice com o presidente da República, é seu braço direito e homem (ou mulher) de confiança. Nem Fernando Haddad (Educação), com as trapalhadas do Enem e cartilhas de gramática "politicamente correta" teve igual tratamento.
A demissão de Palocci diz muito da natureza de uma Presidência que as raposas antigamente chamadas de felpudas, como aquelas que integram a cúpula do PMDB, só agora começam a apreender e compreender - o que não significa, necessariamente, assimilar (lição já entendida: as consultas de Dilma Rousseff são na realidade comunicados. Ponto).
São conhecidos os embates entre Dilma e Palocci no governo Lula, sendo que um deles a ex-ministra expôs publicamente, em entrevista, ao classificar de "rudimentar" o plano de déficit nominal zero para as contas do setor público, apresentado em 2005 pela equipe econômica.
Na composição do comitê de campanha da candidata a presidente, em 2010, Palocci entrou levado pelas mãos do ex-presidente Lula da Silva. A coordenação da equipe deveria ter sido de Fernando Pimentel, hoje ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, acabou formalmente com o então presidente do PT, José Eduardo Dutra, mas na prática o regente era Palocci, que aproximou-se e ganhou a confiança de Dilma na convivência da campanha eleitoral.
Na formação do governo, Dilma queria Palocci num ministério menos abrangente que a Casa Civil. Ele próprio dizia que preferia fica na Secretaria-Geral, aparentemente, da boca para fora e por ter dúvidas se herdaria o posto que antes fora de Dilma.
As versões palacianas são escritas ao gosto do freguês. O registro mais aceito dá conta de que foi Lula quem convenceu Dilma a instalar Palocci na Casa Civil e não na Secretaria-Geral. Entre outros argumentos, Lula teria usado o parecer que isentou Palocci de culpa na quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Lula e Palocci esperavam ganhar tempo para reverter a situação com o aval que o procurador deu às contas de consultoria do ex-ministro.
O primeiro sinal de que a posição do homem forte não era tão forte assim foi emitido na Bahia.
"Eu reconheço, é óbvio que chama a atenção o volume de ganho que ele teve", disse o governador Jaques Wagner aos jornalistas. "Um ano de consultoria ganhar R$ 20 milhões todo mundo se surpreende que é um rendimento muito alto como também chamou atenção a questão lá do apartamento". Wagner foi ministro de Lula, que o chama de "Galego", mas é provável que hoje seja o governador do PT mais próximo de Dilma, que, por sua vez, o chamada de "Jaquinho".
O governador da Bahia também cobrava que Palocci assumisse a própria defesa pública, atitude que já era cobrada por Dilma e petistas mais ligados a ela (Marta Suplicy estava na contramão quando propôs que a bancada do PT no Senado divulgasse uma nota de apoio ao ministro). Gleisi Hoffmann, que em almoço com Lula com senadores tratou o assunto Palocci como uma questão pessoal e não partidária, também é afinada com a presidente da República.
Antes da crise, Palocci e seus aliados pareciam prontos para navegar em altitude de cruzeiro. Atribuía-se ao chefe da Casa Civil uma inflexão ocorrida na política monetária, embora o próprio Palocci, em público, afirmasse que não dava palpite na área econômica. O ministro, é fato, ficou com a gerência da distribuição dos cargos e verbas pedidos pelos partidos que integram a base de sustentação do governo. A insatisfação generalizada entre os aliados, do PMDB ao PCdoB, demonstra que ele não fez nem uma coisa, nem outra.
Os amigos do ex-ministro dizem que ele não fez nada aquém ou além do que foi determinado pela presidente. Pode ser. Mas também é fato que hoje Dilma anuncia uma mudança de postura na sua relação política com o Congresso e os partidos, e sinaliza que a nova equipe palaciana vai destravar a liberação das verbas e dos cargos legitimamente reivindicados. Em outras épocas, chamava-se a isso de "fritura".
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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