Fabiano Costa
Ex-presidente entrou nas articulações para tentar garantir o primeiro desafio da proposta: passar por comissão na Câmara
Ainda que tenha deixado a reforma política de lado nos oito anos em que governou com alta popularidade, o ex-presidente Lula agora virou fiador da proposta elaborada na Câmara. A entrada do petista deu fôlego às negociações, acrescentando um ingrediente a um cenário em que cada partido defende uma receita diferente de reforma: a que mais lhe convém.
Se nos discursos a mudança no sistema eleitoral é considerada urgente e indispensável, no chão do plenário ela esbarra em interesses pessoais e partidários. O texto gestado durante seis meses seria votado na comissão especial na próxima quarta-feira, mas, diante do naufrágio iminente, o relator, Henrique Fontana (PT-RS), pediu mais uma semana para tentar convencer os demais 40 do colegiado.
Antevendo uma manobra para sepultar mais uma vez a reforma – que deve ser votada em plenário na segunda quinzena de novembro –, Fontana recorreu à força política de Lula. Em encontro com o ex-presidente na última segunda-feira, na sede do Instituto Cidadania, em São Paulo, o deputado expôs o cenário pessimista e apelou para que Lula interviesse. Sob os olhares do líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), o ex-presidente concordou.
Petistas do entorno de Lula revelam que seu súbito empenho, no momento em que canaliza suas energias para a eleição de 2012, surge da preocupação de garantir que os interesses do PT sejam assegurados na reforma.
Oposição vê propostas de petista com desconfiança
Os petistas defendem o financiamento público exclusivo de campanha e o voto misto em lista, uma fórmula criada para tentar permitir que o eleitor escolha a legenda que mais lhe agrada, e não mais o candidato. As duas propostas encontram resistências da oposição.
– A lista fechada é uma maneira de impedir que o eleitor escolha seu candidato, fazendo com que os partidos façam isso por ele. Já o financiamento público manda a conta para o contribuinte – critica o líder da bancada do PSDB, Duarte Nogueira (SP).
Mesmo os governistas PSB e PC do B resistem ao fim das coligações proporcionais. Parceiros na disputa por cadeiras no parlamento, as siglas acreditam que suas bancadas seriam reduzidas. Na sexta-feira, Lula sentou-se à mesa com dirigentes de PSB, PC do B e PDT e tentou dobrar as resistências. Diante da promessa de obter compensações para o fim das coligações (como a possibilidade de formar federações de partidos), os aliados acenaram com abertura para de sustentar a proposta de Fontana.
Nos bastidores, o ex-presidente adverte ao PT que não será possível agradar a todas as siglas. Para ele, o imprescindível é costurar um acordo com o PMDB.
Os peemedebistas, porém, não simpatizam com o sistema de voto em lista defendido pelo PT. Partido com o maior número de prefeituras no país, o PMDB advoga pelo voto distrital, modelo no qual cada deputado é eleito individualmente nos limites de um distrito pela maioria dos votos. Na visão dos peemedebistas, a força do partido nos municípios poderia fortalecer sua bancada no Legislativo.
Além disso, a ala tucana do PMDB diz ter detectado na disposição de Lula de emplacar o voto em lista uma artimanha para inchar as bancadas do PT em 2014. Na hipótese de o ex-presidente voltar a disputar a Presidência, sua popularidade atrairia votos para as listas petistas.
FONTE: ZERO HORA (RS)
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