Lula retoma articulação para evitar debandada de alianças com Haddad
Tatiana Farah e Silvia Amorim
SÃO PAULO. Uma conversa com o PCdoB aqui, um afago ao PSB acolá. Fora da cena pública, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta retomar as rédeas da campanha do ex-ministro Fernando Haddad para a prefeitura de São Paulo antes que as alianças eleitorais comecem a fazer água. Segundo interlocutores dos dois partidos, Lula é o único nome do PT capaz de fazer essa articulação, já que socialistas e comunistas ressentem-se da tensa relação com os petistas de São Paulo.
Depois de um telefonema de Lula anteontem, o presidente nacional do PSB, o governador pernambucano Eduardo Campos, já confirmou que visitará o ex-presidente em sua casa, na semana que vem, para discutir o apoio do partido a Haddad. Campos foi um dos articuladores da aproximação do prefeito Gilberto Kassab (PSD) com os petistas. As conversações foram interrompidas com o anúncio da candidatura do ex-governador José Serra à prefeitura, mas o episódio deixou fissuras entre os dirigentes do PT e a militância, contrária a aliança com os socialistas.
Lula prepara também uma aproximação com o PCdoB para defender a candidatura de Haddad. Na sexta-feira passada, um emissário do partido, Walter Sorrentino, visitou Lula no hospital, onde o petista se recuperava de uma pneumonia. Foi uma das raras pessoas autorizadas a entrar no quarto de Lula naquela semana, em que o ex-presidente ficou bastante debilitado depois das sessões de radioterapia contra o câncer na laringe.
O acordo entre PT e PCdoB em São Paulo passa por negociações em outras capitais. Lula já deu sinais de que vê com simpatia a candidatura da menina dos olhos do PCdoB, a deputada Manuela D"Ávila em Porto Alegre (RS). Mas também lhe agrada um eventual apoio do PT à reeleição do prefeito José Fortunatti (PDT), outro partido com o qual os petistas buscam aproximação. Mas o fato é que, por enquanto, o PT gaúcho embarca na pré-campanha do deputado Adão Villaverde, escolhido pelo partido para a disputa. Quanto a isso, Lula ainda precisa conversar com o presidente nacional do PT, o deputado Rui Falcão (SP), para realinhar as propostas petistas.
Apesar de ainda estar convalescendo, o ex-presidente Lula pode ter que correr contra o relógio. O PSDB marcou para a próxima semana o primeiro contato do partido com o PCdoB para um diálogo sobre a eleição em São Paulo.
As conversas entre aliados do ex-governador José Serra, um dos pré-candidatos do PSDB à prefeitura de São Paulo, e o PSB também continuam na cidade, mas alguns tucanos já manifestam sinais de ceticismo em relação a uma aliança, embora o PSB integre a base do governo tucano no estado.
- Trazer o PSB para o Haddad está se tornando uma espécie de questão de honra para o Lula, e a gente sabe que, quando ele encasqueta, sai de baixo - disse um aliado de Serra.
Por enquanto, Lula atua apenas nos bastidores, geralmente com telefonemas. Sua volta às atividades públicas permanece suspensa, pelo menos, até o fim do mês, já que ele não é esperado nem mesmo para abertura do evento do Instituto Lula, que reunirá ministros e outras autoridades para tratar de governança, no dia 30, em São Paulo. Hoje, o ex-presidente volta ao Hospital Sírio Libanês para concluir o tratamento contra a pneumonia, fazer consultas médicas e exames.
FONTE: O GLOBO
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