O recado mais importante da Ata do Copom, divulgada nesta quinta-feira, é que os juros básicos (Selic), hoje nos 9,75% ao ano, cairão para 9,00% ao ano e devem permanecer nesse patamar por algum tempo. Indicação tão precisa é inédita na história do Copom.
Faltou dizer em quanto tempo se consuma o processo. Como o Banco Central mostra pressa, aparentemente para garantir avanço do PIB em 2012, esses 9,00% podem vir em abril.
As principais justificativas para a maior derrubada dos juros em março foram: melhora da situação da economia brasileira; consumo crescendo moderadamente; aumento da confiança; e crise externa relativamente controlada. Isso posto, pergunta crucial busca saber por que o Banco Central vai parar de baixar os juros quando estiverem nos 9,00% ao ano. Se tudo vai bem, não seria recomendável aproveitar a boa situação para derrubá-los mais? Terça-feira, perante a Comissão de Economia e Finanças do Senado, o ministro Mantega avisou que a Selic convergiria para o nível da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), cobrada pelo BNDES, hoje, em 6,0% ao ano. Teria o ministro se metido no que não é de sua conta?
Uma das hipóteses para explicar a parada nos 9,00% é política. Abaixo desse nível, será preciso diminuir o rendimento tabelado da caderneta de poupança, que passaria a remunerar mais do que os fundos de renda fixa e os títulos do Tesouro. E o governo não quer ser acusado de "confisco" na poupança popular às vésperas das eleições municipais deste ano.
Outra possibilidade é que, antes de cortar ainda mais a Selic, é necessária parada técnica para avaliar os efeitos dos cortes acumulados dos juros básicos desde agosto, quando estavam em 12,50% ao ano.
Prevalece a impressão já apontada por esta Coluna em outra oportunidade: há descasamento entre as justificativas para o corte dos juros tais como expostas pelo Banco Central e a execução da política monetária. Variam de reunião para reunião do Copom.
Mais três observações: primeira, o Banco Central enalteceu na Ata os efeitos benéficos do aumento da apropriação de poupança externa. Ou seja, a forte entrada de capitais parece desejável, ao contrário do sugerido pela retórica do "tsunami financeiro" da presidente Dilma e ao pretendido pelas restrições do Ministério da Fazenda ao afluxo de recursos externos.
Segunda, como na ata anterior, o Banco Central advertiu quanto ao risco para a inflação provocada pela "concessão de aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade". Mas, em termos práticos, o que poderia fazer para evitar o problema a não ser desacelerar a atividade econômica seja pelos juros mais altos, seja pelas tais medidas prudenciais?
Terceiro ponto, se o nível da Selic vai pousar na casa dos 9,00% ao ano e, como se pode deduzir das apostas do Banco Central, se a inflação ficar nos 5,0% ao ano, o juro real cairá para a altura dos 4,00% ao ano. Será suficiente para entregar a inflação na meta ou o sistema de metas de inflação ficou mais flexível?
CONFIRA
Sem reajuste. Apesar das reiteradas pressões da Petrobrás, a Ata do Copom deixa claro que o Banco Central conta para este ano com reajustes zero nos preços dos combustíveis, sobretudo da gasolina e do óleo diesel.
A encrenca deles. A presidente Dilma também não parece confiar nas estatísticas econômicas produzidas pelo governo da Argentina. Disse ela aos dirigentes sindicais na última quarta-feira: "Vocês falam da Argentina, mas a Argentina está com 20% de inflação".
Não confiáveis. Ora, o governo da presidente Cristina Kirchner não admite mais do que 9,5% de inflação em 2011 e aplicou multas pesadas em várias consultorias por terem apontado uma inflação real superior a 20% em 2011. De todo modo, Dilma está com o Fundo Monetário Internacional, que deu, em fevereiro, prazo de 6 meses para o governo da Argentina melhorar suas estatísticas. E está com a revista The Economist, que deixou de publicar a medição oficial argentina por serem números não confiáveis ("not reliable").
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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