Depois da sangria provocada pela criação do PSD, legenda tem agora o desafio de evitar o fracasso nas urnas após o escândalo do senador Demóstenes Torres
Karla Correia
O escândalo envolvendo o senador Demóstenes Torres (GO) é apenas mais um dos solavancos que têm jogado o DEM, outrora uma legenda de grande peso político, em direção ao seu ocaso.
A perda de expressão nas urnas com a ascensão de partidos de esquerda ao poder e a debandada de quadros com a criação do PSD conduziram o partido por um caminho que, hoje, desemboca na possibilidade de fusão da sigla com outra agremiação política. Ou de sua extinção.
"São dois cenários que precisaremos avaliar, mas só vamos de fato considerar isso com o resultado das eleições municipais nas mãos", diz um deputado da legenda. "Se for bom, teremos uma base para expandir nossas bancadas federais. Se for ruim, consideraremos essas hipóteses." A rapidez na decisão de afastar Demóstenes — que acabou saindo do partido por sua própria iniciativa — refletiu a preocupação da legenda em interromper a sangria provocada pelo escândalo e seus reflexos nas eleições municipais. O DEM tem hoje 497 prefeitos. Precisa, ao menos, manter esse número para evitar uma segunda fuga de filiados para outras legendas.
O DEM aposta nas candidaturas em capitais do Nordeste, sobretudo as prefeituras de Salvador (BA), disputada pelo líder da legenda na Câmara, ACM Neto, e de Aracaju (SE), com o ex-governador João Alves Filho, para manter a influência do partido na região e construir a base para um necessário crescimento na bancada da legenda no Congresso em 2014 — fundamental para sua sobrevivência. O partido conta hoje com 27 deputados e quatro senadores.
É no Senado que a situação da legenda é mais grave. Das quatro cadeiras ocupadas pelo partido na Casa, duas estão em jogo. O senador Clóvis Fecury (DEM-MA) é suplente do peemedebista João Alberto Souza, que assumiu no ano passado a Assessoria de Programas Especiais da Casa Civil do governo maranhense. A senadora Maria do Carmo Alves (DEM-SE) é alvo de processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por suposto uso indevido de bem público durante a campanha de 2006. Na hipótese da perda dessas duas vagas, a legenda ficaria apenas com dois senadores, o que tiraria da sigla o direito a ter um líder na Casa.
Cientes do abalo que o desmoronamento na imagem de Demóstenes, uma das figuras mais expressivas da legenda, pode causar no partido em ano eleitoral, os Democratas tentam se amparar na tese de que a desfiliação do senador reforça a imagem de uma sigla comprometida com a ética. "A decisão radical de cortar na própria carne mostra que o partido continua maior do que seus integrantes, e existe uma demanda no meio do eleitorado por esse tipo de atitude, de perfil em uma legenda", aposta o deputado Pauderney Avelino (DEM-AM), ele mesmo pré-candidato à prefeitura de Manaus (AM) no pleito deste ano.
CPI do Cachoeira
"Saímos fortalecidos. Foi importante agirmos rápido porque conseguimos manter o discurso da ética", disse ACM Neto (BA), em um inflamado discurso no plenário da Câmara. Ato contínuo, ACM Neto partiu para o ataque ao defender a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigue a ligação entre o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e parlamentares da Câmara. Sobretudo os pertencentes a outras legendas.
"Nossa atitude demonstra que somos um partido que se diferencia dos demais. As legendas precisam dar, agora, uma satisfação à sociedade. O DEM já deu a sua", reforçou o líder. Em 2009, o DEM também cobrou a desfiliação do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, após a deflagração da operação Caixa de Pandora. Arruda deixou a legenda e teve o mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral por infidelidade partidiária.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
Nenhum comentário:
Postar um comentário