sábado, 7 de abril de 2012

Prefeitos aceleram gastos antes de buscar reeleição

Titulares podem se candidatar em 7 das 9 capitais que elevaram investimentos

Políticos negam que exista relação entre o aumento das verbas para obras em 2011 e seus planos eleitorais

Mariana Schreiber, Mariana Carneiro

SÃO PAULO - Prefeitos que podem concorrer a um novo mandato nas eleições de outubro aceleraram os gastos com investimento no ano passado.

Entre as 9 capitais que elevaram em 2011 a fatia da receita destinada a despesas com obras, em 7 o atual prefeito pode concorrer à reeleição, mostram dados do Tesouro levantados pela Folha e pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro.

As maiores altas ocorreram no Rio de Janeiro, comandada por Eduardo Paes (PMDB), e em Curitiba, cujo prefeito é Luciano Ducci (PSB) - dois pré-candidatos à reeleição.

A Prefeitura do Rio destinou quase um quarto da sua receita corrente líquida de 2011 para investimentos, o dobro de 2010. Em valores absolutos, a cidade ultrapassou São Paulo e passou a ser a capital que mais investe.

Nos dois primeiros anos de mandato de Paes, o Rio segurou os gastos e fez um superavit primário (economia antes do pagamento de juros da dívida) de R$ 2 bilhões.

Os investimentos caíram para R$ 400 milhões em 2009, metade do registrado em 2008. Neste ano, a previsão é gastar R$ 3,6 bilhões em obras. Segundo a prefeitura, a aceleração dos gastos não tem relação com as eleições.

"Os governos são ciclos de quatro anos. Às vezes, esse ciclo se confunde com a ordem natural de preparação do investimento", afirma o secretário Pedro Paulo, chefe da Casa Civil do Rio.

Crise e retomada

Em Curitiba, a fatia da receita destinada a investimentos também quase dobrou no ano passado (R$ 291 milhões), após fortes quedas nos dois anos anteriores.

Segundo o secretário de Planejamento, Carlos Giacomini, a execução das obras caiu devido à escassez de mão de obra e cimento e à crise financeira internacional, que reduziu as linhas de financiamento e limitou o crescimento da arrecadação.

Superados esses problemas, ele diz que houve uma retomada dos investimentos, mas reconhece que a proximidade das eleições costuma estimular esse tipo de gasto.

"O administrador tem o direito de organizar o orçamento levando em conta a melhor estratégia. Faz parte do jogo. É uma política que está consolidada no país", disse.

Entre as capitais em que pode haver reeleição, Recife foi a terceira que mais elevou a fatia das receitas aplicadas em investimentos em 2011. O prefeito João da Costa quer se reeleger, mas terá ainda que vencer as prévias do PT.

O secretário de Finanças do Recife, Petrônio Magalhães, também culpa a crise pela queda dos investimentos em 2009. Após leve retomada em 2010, os gastos ganharam fôlego no ano passado. "Não tem nada a ver com calendário eleitoral", disse.

Segundo Magalhães, os investimentos devem superar R$ 400 milhões neste ano (alta de mais de 60%), principalmente devido às obras da Via Mangue, via expressa de 4,5 km que deverá ser entregue antes da Copa de 2014.

Depois de Recife, o ranking de alta de investimentos nas capitais onde pode haver reeleição é completado por Belo Horizonte, João Pessoa, Manaus e Porto Alegre.

O especialista em finanças públicas Amir Khair disse que é comum as prefeituras acelerarem seus investimentos nos meses anteriores às eleições. Sua previsão é que esses gastos vão ganhar ainda mais fôlego neste ano.

"Quando é a própria pessoa que está trabalhando a sua reeleição, ela tem um horizonte de planejamento melhor. Ela se prepara mais e começa a fazer investimentos, não só no último ano, mais um pouco antes", afirmou.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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