sábado, 7 de abril de 2012

Banco público corta juro, mas tem cliente de maior risco

Dados do Banco Central mostram que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal (CEF) têm operações de crédito para pessoas físicas com risco de calote maior que os concorrentes privados, informa o repórter Fernando Nakagawa. Os bancos particulares têm 75,9% dos empréstimos para pessoas físicas na faixa entre "AA" e "A", a de melhor classificação. Nos públicos, 55% dos clientes estão no grupo entre "B" e "H". Portanto, a fatia dos melhores clientes fica com 45% das operações. "Bancos públicos direcionam crédito para pessoas que, no mínimo, tem uma condição menos favorável para pagar ou, pior, que atrasam constantemente", diz o professor de finanças Ricardo José de Almeida. A área técnica dos bancos estatais, no entanto, argumenta que a taxa de inadimplência no Banco do Brasil e na Caixa está abaixo da média do mercado. A partir da próxima semana, as duas instituições vão reduzir os juros de várias linhas de crédito. O objetivo é tirar parte da clientela dos bancos privados e provocar a redução das taxas de juros em todo o mercado

Bancos públicos cortam juros, apesar de ter clientes de maior risco

Números mostram que os bancos públicos direcionam crédito para pessoas com menos condição para pagar

Fernando Nakagawa

BRASÍLIA - Nem bem a corrida pelo aumento do crédito e redução dos juros começou e os bancos públicos já estão em desvantagem. Pelo menos quanto à classificação dos empréstimos concedidos aos clientes. Dados do Banco Central mostram que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal têm operações para pessoas físicas com classificação de risco pior que nos concorrentes privados.

Quando um financiamento é realizado, bancos avaliam a transação e atribuem uma nota individual. É parecido com o que as agências de classificação de risco fazem com os países. Pelos critérios do Banco Central, as avaliações vão de "AA" até "H", a pior entre as nove possíveis.

Nas duas primeiras notas - "AA" e "A" - estão as melhores operações e que têm o menor risco de calote. A partir de "B", ficam os financiamentos com atraso de 15 dias no pagamento ou risco equivalente. No "H" estão os clientes que não pagam há mais de seis meses.

Por esse critério, bancos particulares têm boa parte dos clientes na melhor faixa, entre o "AA" e "A": 75,9% dos empréstimos para pessoas físicas recebem essa classificação. Nos públicos, a situação é oposta: a maioria está no grupo entre "B" e "H", faixa que concentra 55% dos financiamentos. Portanto, a fatia dos melhores clientes fica com 45% das operações.

Menos favorável. "O número é claro e mostra que bancos públicos direcionam crédito para pessoas que, no mínimo, têm uma condição menos favorável para pagar ou, pior, que esses clientes atrasam constantemente", diz o professor de finanças do Insper, Ricardo José de Almeida.

O BB e a Caixa vão reduzir a partir desta semana os juros de várias linhas de crédito. O objetivo é tirar parte da clientela dos bancos privados. Além disso, o governo acredita que o movimento pode incentivar a concorrência e provocar a redução dos juros em todo o mercado.

Os números do BC mostram que o crédito às famílias nos bancos particulares está concentrada na faixa com nota "A". Já nos estatais, a maior participação vem dos financiamentos com classificação "B" e "C".

Bancos públicos se defendem e argumentam que seguem o conceito previsto pelo BC que cita que operações entre "AA" e "C" recebem avaliação como "risco normal".

O argumento é que não importa se a operação é "AA" ou "C" porque todas podem ser incluídas no grupo "risco normal". É mais ou menos o que acontece com os fundos estrangeiros autorizados a aplicar em países que receberam a chancela de "grau de investimento". Pelo discurso dos estatais, é semelhante comprar um título da dívida da Alemanha - que tem o melhor rating do mundo - ou do Azerbaijão - nação com a pior nota no grupo dos que tem grau de investimento.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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