Salvo surpresas, o Copom manterá hoje tudo como está na taxa básica de juros. Até aí, beleza, porque um pouco de previsibilidade parece ser exatamente do que a política econômica necessita.
Mas o Brasil ruma ao terceiro ano de inflação alta, e qualquer soluço pode estourar o chamado teto da meta, de 6,5%. O discurso oficial de que "um pouco de inflação não faz mal e ajuda a crescer" foi implodido de uma vez por todas pelo pibinho.
Subir juros, arma primária do BC, contudo, é hipótese herética. Sem bala, o governo apela ao que pode.
Primeiro foi a maquiagem de fim de ano que manteve a meta do superavit primário, justamente para evitar tendências inflacionárias. Custou ao menos uns R$ 4 bilhões ao contribuinte, só de prejuízo nas operações com ações da Petrobras.
Agora, o governo manipula a própria inflação, adiando impactos.
Como não dá mais para segurar o aumento dos combustíveis, expediente que quebra as pernas da mesma Petrobras há anos, atacaram as tarifas municipais de ônibus. São Paulo e Rio frearam reajustes a pedido do governo, por serem bons aliados e terem a promessa de reestruturação de suas dívidas com a União.
Em caudaloso artigo no "Valor Econômico" de ontem, Delfim Netto descascou a manipulação.
"A quebra da seriedade da política econômica produzida por tais alquimias não tem qualquer efeito prático, mas tem custo devastador. Se repetida, vai acabar matando os próprios alquimistas pela inalação dos gases venenosos que, como todos sabemos, elas mesmos emitem...", escreveu ele, conhecedor como poucos desse tipo de maquiavelismo.
Como a crítica não veio da "Economist" ou de algum "tucano" (isto é, alguém que não diga amém ao Planalto), talvez alguma luz de alerta acenda no governo. No Instituto Lula, interessado maior nos efeitos de tudo isso em 2014, ela já está a piscar furiosamente.
Fonte: Folha de S. Paulo
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