Apolítica de consertar as inconsistências da economia com improvisações e puxadinhos está levando a um beco sem saída.
Os seguidos adiamentos dos reajustes dos combustíveis, por exemplo, vêm criando distorções que tornam quase inevitável a recomposição dos preços no pior momento para o governo - justamente quando as correções dos preços se acumulam.
A principal distorção é o estrago que a prática de subsídios e o atraso dos reajuste provocam nas finanças da Petrobrás. Ainda ontem, "fontes da empresa" reafirmaram que a Petrobrás precisa do reajuste de 15% dos combustíveis para atualização do seu Plano de Negócios - ou seja, para dar seguimento a sua carteira de investimentos de US$ 236,5 bilhões até 2016. Além disso, está claro que a empresa vai perdendo capacidade de endividamento e que, provavelmente, precisa criar condições de mercado para novo reforço do capital.
A outra distorção recai sobre o setor de etanol. O governo pretende aumentar a proporção de álcool anidro na gasolina, de 20% para 25%, com o objetivo de reduzir o consumo de gasolina e a dependência de importações. No entanto, a produção das usinas segue desestimulada. O etanol tem apenas 70% da capacidade energética da gasolina. Como os preços da gasolina estão congelados, não é possível cobrar mais pelo etanol, porque o consumidor migraria para a gasolina. Com sua margem de retorno fortemente comprimida pela elevação dos custos, os usineiros e os produtores de cana-de-açúcar adiam seus investimentos ou descuidam dos canaviais.
A falta de flexibilidade na área dos combustíveis, por sua vez, é o resultado de uma política de riscos altos assumida pelo governo e pelo Banco Central, baseada na ideia de que "é preciso fazer o que ninguém fez e, se alguma coisa der errado, a gente vê como conserta depois".
A inflação vem com força e deverá saltar para acima dos 6,0% em 12 meses, porque o governo Dilma entendeu que tinha de cuidar preferencialmente do crescimento econômico. Por isso, foi mais permissivo na administração das contas públicas e levou o Banco Central a derrubar os juros a níveis macroeconômicos inconsistentes.
A ideia de que uma inflação mais alta seria tolerável porque garantiria mais atividade econômica foi outra vez desmentida pela sucessão de pibinhos que vieram depois. Os resultados são a pior combinação: inflação alta, entre as mais elevadas entre os países emergentes; e atividade econômica fraca, quase-parando, que, por sua vez, desestimula o investimento, numa paisagem de custos trabalhistas no pico.
O governo federal já vinha se esforçando para segurar a inflação no muque - em vez de obter resultados naturais com políticas consistentes. O achatamento dos preços dos combustíveis faz parte desse jogo. As reduções de impostos na compra de automóveis e de aparelhos domésticos, somadas ainda às negociações com as principais prefeituras do Brasil para adiar os reajustes das tarifas de transporte público, também fazem. Manobras desse tipo compram algum tempo, mas represam pressões telúricas que um dia vazam - ou irrompem.
Por enquanto, o governo Dilma ainda confia em que a volta do crescimento econômico robusto, da ordem de 4,0% ao ano, devolverá a confiança e ajudará a resolver todas as pendências. O problema é que essa virada pode não vir.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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