Um dos responsáveis pela inflação de 5,84% no ano passado, o segmento não deverá dar trégua e promete novos aumentos em 2013
Priscilla Oliveira
Os consumidores que sentiram o peso da alta da inflação em 2012 devem preparar o bolso. A escalada dos preços no setor de serviços, um dos principais responsáveis por puxarem para cima o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), no ano passado, deve continuar em 2013, segundo os especialistas. Os próprios profissionais da área admitem que será impossível não repassar novos aumentos aos clientes. O motivo é o custo crescente da mão de obra e dos materiais, além do peso dos impostos.
O proprietário da Madeireira Menezes, Hélio Menezes, disse que a falta de trabalhadores qualificados no mercado obriga os patrões a pagarem mais para manter a mão de obra boa que eles conseguem. “Quando há um bom profissional, acontece um verdadeiro leilão. O funcionário vai para onde o salário é melhor. Se eu não oferecer remuneração melhor, outro paga mais”, afirmou.
Segundo Menezes, o trabalhador que há um ano ganhava R$ 800 recebe hoje R$ 1 mil. “No caso dos motoristas, a remuneração chega a R$ 1,2 mil”, completou. Para ele, é impossível não repassar o aumento ao consumidor. “Já tentamos até abater o preço de alguns produtos, mas a margem de lucro continua muito pequena em razão dos gastos com pessoal e impostos”, disse.
Pressão
Gerente de uma oficina de lanternagem e pintura no Paranoá, próximo a Brasília, Antônio Oliveira viu os salários dos funcionários passarem de R$ 800 para R$ 1,3 mil nos últimos dois anos. “Falta mão de obra. Então, se eles exigem valor mais alto, a gente é obrigado a pagar”, afirmou.
Conforme dados divulgados na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as despesas pessoais registraram variação média de 10,17% em 2012, contribuindo para que o IPCA fechasse o ano em 5,84%. A alta foi liderada pelos gastos com empregados domésticos (12,73%), seguidos dos de manicure (11,73%), costureira (7,42%) e cabeleireiro (6,8%).
O economista senior do Espirito Santo Investment Bank, Flávio Serrano, explicou que a inflação de serviços sempre esteve acima do IPCA e deve seguir esse padrão também em 2013. “O mercado de trabalho apertado é o principal fator que leva essa inflação a rodar de forma elevada persistentemente”, disse. Ele lembra que a taxa de desemprego baixa pressiona os custos dos fornecedores para cima, sem contar a transferência de renda da população que fez com que os serviços participassem mais do consumo interno.
Dessa forma, um controle da situação implicaria, segundo Serrano, uma piora no desemprego e na desaceleração da economia. “Será algo bastante desafiador para o governo. Como a presidência não quer perder popularidade, não deve mexer nisso e, infelizmente, nós devemos ter continuidade dessas pressões no cenário brasileiro”, completou.
Insumos
Também proprietário de uma oficina mecânica, Isaias Lopes destacou que os custos crescentes dos produtos e insumos utilizados para a realização do serviço têm sido determinantes para o acréscimo na conta do consumidor, além da mão de obra mais cara. Uma lata de primer, utilizado para fixar a pintura de carros, por exemplo, passou de R$ 25 para R$ 30 em menos de seis meses, 20% de aumento, segundo ele. “Um serviço de lanternagem que custava R$ 1,5 mil há seis meses, hoje não sai por menos de R$ 2 mil”, disse.
Dono da Módulo Gesso, em São Sebastião, Warlly Aguiar também atribui a alta dos preços dos serviços aos produtos mais caros, além do aumento do dólar, que encareceu os itens importados. “Não estamos dando conta de importar material, tem mês que fica sem”, revelou. Segundo ele, o metro quadrado do gesso, que há poucos meses custava R$ 3,50, agora está em R$ 6, quase o dobro. Com serviços mais caros, o consumidor anda adiando a reforma ou a construção da casa. “Neste fim de ano, as vendas caíram 30%. Janeiro também costuma ser bem fraco, mas nunca foi tão ruim quanto este”, disse.
Fonte: Correio Braziliense
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