O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação anunciou recentemente com toda pompa e circunstância a transferência e a construção de uma nova sede do Centro Nacional de Monitoramento e de Alertas a Desastres Naturais – CEMADEN, que deixaria de ser abrigado no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, em Cachoeira Paulista e passaria para um terreno a ser doado pela Prefeitura de São José dos Campos no Parque Tecnológico dessa cidade.
Trata-se de uma medida que pouco se coaduna com um órgão que, por lidar com ciência, tecnologia e inovação, deveria também estar na linha de frente (ou pelo menos não desconhecer) em questões de gestão, planejamento e desenvolvimento regional.
Um dos principais problemas do desenvolvimento urbano e regional do país, e do Vale do Paraíba em particular, foi e é a concentração urbana em poucos e grandes centros polarizadores de atividades econômicas e de crescimento demográfico.
Quando se tem uma atividade de alta tecnologia, que necessita de mão-de-obra altamente qualificada, e remuneração idem, localizada em uma cidade de pequeno porte como Cachoeira Paulista - 30.091 habitantes e PIB per capita de R$ 12.575,90 em 2010, é um acontecimento incomum a ser incentivado, continuado e reproduzido, nunca para ser interrompido e transferido para um local que já é pólo regional, populoso e com riqueza acima da média regional, estadual e nacional como São José dos Campos, cidade com 629.921 habitantes e PIB per capta de R$ 38.431,00, também segundo dados de 2010.
O argumento apresentado para a mudança de que a proximidade física com centros de pesquisa seria benéfica ao CEMADEN é muito pobre. Sabe-se que no mundo da pesquisa de ponta, e do alerta de emergências, tudo deverá acontecer o máximo possível no mundo virtual e em altíssima velocidade, com telemetria em tempo real, alarmes automáticos, trocas de arquivos instantâneas, vídeos-conferências, correspondências eletrônicas etc etc etc. E mesmo que a localização física fosse importante assim, entre Cachoeira Paulista e São José dos Campos são míseros 100km, aproximadamente uma hora de viagem em boa rodovia de alta velocidade, a Via Dutra.
Somente uma velha visão de centralização e concentração de poder político explica essa mudança extemporânea e desnecessária, inclusive porque no INPE de Cachoeira Paulista onde está hoje o CEMADEN o que não falta é terreno, espaço livre, desimpedido e já de propriedade da União para a construção de uma nova sede.
Neste exato momento, em que se está buscando implantar a Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, que tem como um dos princípios de sua criação a busca do equilíbrio do desenvolvimento regional, não cabe uma proposição que negue isso e simplesmente reproduza o que sempre se fez e possa vir a agravar a desigualdade entre as cidades.
Urbano Patto é Arquiteto-Urbanista, Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional, Secretário do Partido Popular Socialista - PPS - de Taubaté e membro Conselho Fiscal do PPS do Estado de São Paulo. Comentários, sugestões e críticas para urbanopatto@hotmail.com.
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