Centro-esquerdista Letta terá tarefa de destravar impasse pós-eleição
Roma A esperança da Itália colocar fim a um impasse político que já dura dois meses tem novo nome: Enrico Letta, líder centro-esquerdista escolhido ontem pelo presidente Giorgio Napolitano para o cargo de premier. Letta, de 46 anos, um ex-democrata-cristão da ala mais conservadora do Partido Democrático, tem a missão de articular um acordo entre os partidos que enfim leve à formação de um novo governo para pôr fim ao vazio de poder criado com as eleições de fevereiro. Na ocasião, o PD conseguiu a maior bancada na Câmara, mas não no Senado, e seu líder, Pier Luigi Bersani, foi incapaz de montar uma coalizão de governo.
Letta aceitou o desafio com uma ressalva: afirmou que não formará um governo "a qualquer custo", e advertiu que os partidos devem assumir compromissos.
- A política perdeu toda a credibilidade. Ou a recuperamos juntos ou não encontraremos instrumentos para resolver os problemas - disse.
Sua indicação, posterior à inédita reeleição do presidente - Napolitano, de 88 anos, aceitou continuar no cargo depois que os partidos não chegaram a um consenso sobre seu sucessor -, é um sinal de que o país poderia estar preparado para iniciar reformas para sair da recessão. Antes, Letta deverá provar a que veio: ele começará hoje a negociar com os partidos, e seu gabinete deve ser submetido a um voto de confiança até o final da semana. A previsão é que ele indique um grupo de ministros formado por políticos e tecnocratas, sob supervisão de Napolitano.
- Tenho uma responsabilidade com a parte do país que sofre. É preciso responder já a essa emergência - afirmou.
Nomeação surpreendeu político
A indicação de Letta foi uma surpresa para o próprio político. O mais cotado era o ex-premier ministro Giuliano Amato, mais próximo a Napolitano. O prefeito de Florença, Matteo Renzi, de 37, derrotado por Bersani nas primárias do Partido Democrático, também foi considerado. A opção por Letta, segundo analistas, indica que o presidente buscou uma figura com trânsito político e que reflete uma mudança de geração na política italiana: um parlamentar da centro-esquerda bem visto pela centro-direita por seu estilo negociador e suas origens democrata-cristãs.
Apesar da relativa pouca idade, Letta já foi subsecretário da Presidência durante o governo de Romano Prodi e ministro em três ocasiões: de Políticas Comunitárias, Indústria e Comércio e Comércio Exterior. É sobrinho de Gianni Letta, que durante muito tempo chefiou o gabinete do ex-premier Silvio Berlusconi. Sua postura pró-União Europeia poderia ser bem recebida pelos governos estrangeiros e pelos mercados. A primeira reação foi positiva: os juros da dívida pública italiana caíram ontem a seu menor nível desde o início da união monetária europeia, em 1999.
- Abrimos caminho para formar o governo que o país precisa e pelo qual espera há tanto tempo - afirmou Napolitano.
O partido Povo da Liberdade, de Berlusconi, e o grupo Eleição Cívica, de Mario Monti, já deram sinais de cooperação. As dúvidas vêm do Movimento 5 Estrelas, do comediante Beppe Grillo - terceira maior força no Parlamento - e da própria centro-esquerda, ainda dividida sobre um acordo com Berlusconi. O temor é que Letta termine como Bersani, que renunciou no último final de semana ao fracassar em articular um governo de consenso.
Napolitano já avisou que não mediará outra luta interminável entre os partidos. E ameaçou renunciar se não houver unidade. Um dos pontos-chave para o entrave é a revogação da lei eleitoral: aprovada em 2005 pelo governo de Berlusconi, ela impõe às legendas a necessidade de coalizões para que possam governar.
Fonte: O Globo
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