Valério depõe novamente à PF e detalha acusação de que ex-presidente sabia do esquema
BRASÍLIA - Marcos Valério Fernandes de Souza, condenado a 40 anos e quatro meses de prisão no processo do mensalão, reafirmou, em depoimento à Polícia Federal, que teve um encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2003, no Palácio do Planalto. Valério confirmou o conteúdo do depoimento que prestou à Procuradoria Geral da República em setembro de 2012 e acrescentou mais detalhes às denúncias que fizera contra o ex-presidente. Valério foi interrogado pela delegada Andrea Albuquerque, na Superintendência da PF em Belo Horizonte, anteontem à tarde.
A partir da análise das informações de Valério, a delegada deverá decidir os próximos passos da investigação. Ao longo da tarde de ontem, a assessoria da polícia informou que, de fato, Valério "sanou dúvidas" deixadas no depoimento prestado à subprocuradora Cláudia Sampaio e à procuradora-regional da República Raquel Branquinho. As duas interrogaram Valério a pedido do procurador-geral Roberto Gurgel. No depoimento às duas, Valério disse que teve um rápido encontro com Lula no Palácio do Planalto em 2003.
Durante o encontro, Lula teria endossado um acordo firmado entre Valério, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Pelo acerto, o grupo receberia R$ 7 milhões da Portugal Telecom. O dinheiro seria repassado ao PT. Após a conversa com Dirceu e Delúbio, Valério teria passado no gabinete do então presidente e, em rápida conversa, Lula teria dado seu aval à operação em curso com a empresa de telefonia. No depoimento à PF, Valério teria acrescentado detalhes sobre as supostas conversas para mostrar que, realmente, esteve com Lula.
Lula nega encontro
Quando o caso veio à tona ano passado, auxiliares do ex-presidente negaram que ele tenha se encontrado com Valério. A PF não informou se a delegada considerou consistentes as declarações do operador do mensalão. Valério prestou depoimento à Procuradoria Geral ano passado, numa tentativa de ser considerado réu colaborador e, com isso, livrar-se em parte das condenações no processo do mensalão. Mas a estratégia não teve o resultado esperado. As acusações de Valério foram deixadas de lado e, só agora, começam a ser investigadas num caso à parte.
Para o Ministério Público, as novas confissões do operador não terão impacto sobre o resultado do processo principal do mensalão. Valério é investigado ainda em mais sete casos relacionados ao mensalão. Num dos inquéritos, a Polícia Federal em Minas Gerais apura pagamentos feitos pelas empresas de Valério a mais de cem pessoas, incluindo Freud Godoy, ex-chefe da segurança da campanha de Lula. A investigação foi determinada pelo STF em outubro de 2012.
A ordem é seguir toda a movimentação do dinheiro. No início do ano, quando o caso chegou à Procuradoria da República em Belo Horizonte, o procurador Leonardo Augusto Santos Melo, que está à frente da apuração, disse que as investigações atingem pessoas "de todas as colorações partidárias", que receberam dinheiro de Valério no começo da década passada. No depoimento à Procuradoria Geral, Valério disse que fez pagamentos a Godoy e que parte do dinheiro teria sido usada para pagar despesas pessoais de Lula.
O caso foi investigado pela CPI dos Correios. A quebra do sigilo comprovou o repasse de aproximadamente R$ 100 mil de Valério para a empresa de segurança Caso, de Godoy. Os parlamentares, no entanto, não avançaram na investigação. Não ficou esclarecido se, de fato, Godoy bancou gastos de Lula. O Instituto Lula informou que o ex-presidente não comentaria o novo depoimento de Valério. O advogado de Marcos Valério, Marcelo Leonardo, também se recusou a falar sobre o depoimento à Polícia Federal.
Fonte: O Globo
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