“Determinados setores parecem desejar o fracasso da Copa, como se disso dependessem as suas chances eleitorais”. Lula, no jornal “El País
- O Globo
Na última quinta-feira, ao receber para jantar no Palácio da Alvorada 10 jornalistas esportivos, Dilma pôs um ponto final na discussão sobre se será ela ou Lula o candidato a presidente na eleição de outubro próximo.
Disse em resposta a uma pergunta: “É a minha hora. E vou até o fim. Perdendo ou ganhando”. Lembrou que em 2006, por essa mesma época, Lula tinha índices piores do que ela nas pesquisas.
Menos, Dilma, menos. Em maio de 2006, Lula tinha 45% das intenções de voto, segundo o instituto Datafolha. Sua tendência era de alta.
Pesquisa Datafolha aplicada este mês conferiu a Dilma 37% com tendência de queda. Os mesmos 37% que ela alcançou em maio de 2010, ano em que se elegeu. Naquela ocasião estava crescendo.
O desejo de mudança em 2006 e 2010 não foi medido por pesquisas tornadas públicas. Deveria ser baixo, do contrário Lula não se reelegeria com tanta folga nem elegeria Dilma.
Este mês, o desejo de mudança atingiu 72% no Datafolha. Noutras palavras: pouco mais de sete em cada dez eleitores querem que o futuro presidente governe em parte ou de forma totalmente diferente de Dilma.
A de outubro será a sétima eleição presidencial pelo voto popular desde o fim da ditadura militar de 1964, que durou 21 anos.
A primeira eleição foi em dezembro de 1989. Apresentaram-se 22 candidatos. O brasileiro votou apenas para presidente.
Fernando Collor e Lula, que encarnaram a mudança em relação “a tudo”, disputaram o segundo turno. Collor ganhou apertado.
Fernando Henrique se elegeu em 1994 como o candidato da continuidade. Havia sido ministro da Fazenda de Itamar Franco, o vice que substituíra Collor, cassado pelo Congresso sob a suspeita de ser corrupto.
Deveu a eleição ao Plano Real que levou sua assinatura. O plano introduziu uma nova moeda, reduziu ao mínimo a inflação que chegara a mais de 80% ao mês, e estabilizou a economia.
A continuidade voltou a triunfar em 1998 quando o Real ainda teve fôlego para reeleger Fernando Henrique.
Em 2002, com o desemprego subindo, venceu a mudança: elegeu-se Lula.
Nas eleições seguintes de 2006 e 2010, sustentada pelos resultados dos programas sociais e de uma melhor distribuição de renda, a continuidade venceu com Lula e Dilma. “A mulher de Lula”, como Dilma se tornou conhecida, jamais disputara uma eleição.
Empenhado, agora, em interromper a queda de Dilma nas pesquisas, o PT sacou de uma velha arma comum às campanhas de todos os partidos e candidatos que se veem em clara desvantagem: o medo.
A arma foi usada em um comercial do PT na televisão. Atores representaram pessoas bem de vida confrontadas com o risco de se tornarem miseráveis. Dará certo?
Deu para Collor em 1989, que assustou eleitores dizendo que Lula ameaçava a democracia e à economia de mercado.
O medo ficou de fora da eleição de 1994, mas ajudou Fernando Henrique a bater Lula quatro anos mais tarde. Foi dito que o Plano Real naufragaria se Lula vencesse.
A “esperança venceu o medo” em 2002 e elegeu Lula. Que se valeu do medo para derrotar Geraldo Alckmin na eleição de 2006. Foi dito que as empresas estatais seriam privatizadas se Alckmin vencesse.
O medo perdeu o gás na eleição de 2010.
Dá-se como verdade que o distinto público detesta pancadaria em campanha. Prefere a exposição elegante de boas ideias de governo. Não é assim.
A pancadaria costuma funcionar. A arte está em saber calibrar o medo com promessas de felicidade.
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