quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Celso Ming - Ano de ajuste

- O Estado de S. Paulo

Este 2015 está sendo apresentado pelo governo Dilma como um ano de ajuste. Por enquanto, sabemos de apenas três ajustes importantes: o fiscal, o monetário e o de preços. Decididamente, não é o suficiente para garantir o crescimento econômico nos anos seguintes - já que a faxina não promete grande coisa na atividade econômica de 2015.

O saneamento das contas públicas (ajuste fiscal) prometido pelo ministro indicado para a Fazenda, Joaquim Levy, aquele que, em 2015, produzirá um superávit primário (poupança do governo) de 1,2% do PIB, ou R$ 66 bilhões, será realizado num ambiente de redução de subsídios e de baixo avanço do PIB, portanto, de dificuldades para aumentar a arrecadação. O serviço mais pesado terá de se concentrar na redução das despesas, num quadro em que o Tesouro não poderá mais ser usado para transfusões diretas de recursos para os bancos públicos ou para empresas de energia.

Na área monetária, o combate à inflação ficará concentrado no aperto do volume de dinheiro na economia (alta dos juros). Depois de muita vacilação, o Banco Central passou a prometer que "fará o necessário" para controlar a inflação. Isso implica crédito mais caro e mais escasso. O objetivo é obter a convergência para a meta de inflação, de 4,5%, não em 2015, mas em 2016.

Parte necessária no ajuste é o realinhamento de preços que, por sua vez, tem também a ver com a redução dos subsídios à energia elétrica, aos transportes públicos, ao crédito dos bancos oficiais. Ao longo dos últimos quatro anos, o governo Dilma caiu na esparrela em que caíram outros governos: o represamento artificial de preços, inclusive os da moeda estrangeira (câmbio). É o mesmo que segurar os ponteiros do relógio para impedir a passagem do tempo. Essa distorção produziu outras e foi enorme fonte de insegurança. Qual é, por exemplo, a empresa dependente de energia elétrica que vai investir se não sabe se poderá contar com suprimento adequado de energia?

Esses ajustes serão de grande valia para a recuperação da confiança. Mas não serão suficientes. É necessário bem mais para acionar o investimento. É preciso garantir o crescimento da poupança e a criação de mecanismos que a captem no mercado para que, em seguida, possa ser canalizada para projetos de infraestrutura.

Também será necessário recuperar a competitividade da indústria, que é mais do que simplesmente trazer o câmbio para dentro da curva. O governo não só terá de detalhar um programa de redução de custos, mas, também, de fechar acordos comerciais que criem preferência para o setor produtivo.

Mas, cá entre nós, a questão técnica é relativamente fácil de equacionar. É só aplicar o que prescrevem os manuais. O grande problema é de outra ordem. Consiste em saber até que ponto a presidente Dilma está disposta a sustentar o preço político de um ajuste, ainda que lento e gradual. Usou os pedaleiros da hora para tocar a política econômica que ela escolheu e os descartou. Agora, convocou a dupla ortodoxa Levy e Barbosa para consertar os estragos. Boa aposta consiste em saber até quando vai mantê-los.

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