• Ao recrutar Henrique Meirelles e Ilan Goldfajn, Temer conseguiu atrair um leque de profissionais da melhor qualidade
- O Globo
Michel Temer assumiu a Presidência há cinco semanas. E a vida não lhe tem sido fácil. Às voltas com embaraços da Lava-Jato, excessos do Centrão, protestos contra a extinção de ministérios e queixas quanto ao seu “gabinete de homens brancos”, Temer confessou à “Folha de S.Paulo” (13/6) que o exercício do cargo “tem sido uma guerra”.
Mas, apesar da sensação de desgaste e irresolução que tem emanado dessas muitas dificuldades e das idas e vindas de Temer, há que se reconhecer o notável sucesso que seu governo vem mostrando diante de dois desafios cruciais. Em pouco mais de um mês, ele conseguiu montar uma equipe econômica de excelente nível e, ao mesmo tempo, esboçar a consolidação de uma base parlamentar ampla, que, por problemática que seja, se tem mostrado razoavelmente eficaz.
Não é pouco. Ao concentrar seu limitado capital político inicial na consecução desses dois objetivos, Temer tornou bem mais crível a perspectiva de levar adiante o difícil programa econômico que contempla para o país.
Para dar o devido valor à montagem de uma equipe econômica tão boa — em tão pouco tempo e em condições tão adversas —, é preciso ter em mente que há mais de uma década não se vê no país equipe de nível similar. Sem ir mais longe, basta comparar a tripulação que hoje se tem na Fazenda e no Banco Central com a que foi recrutada pela presidente Dilma no seu primeiro mandato.
A experiência mostra que formar uma equipe de alto nível é sempre muito difícil. Mais difícil ainda para um governo interino, como o atual, que, na melhor das hipóteses, terá pouco mais de 30 meses de mandato. Vale aqui lembrar a enorme dificuldade que teve o presidente Itamar Franco para conseguir compor uma equipe econômica razoável no início do seu curto mandato.
Tendo nomeado, ao longo dos primeiros sete meses de governo, três ministros da Fazenda, que, em média, duraram 75 dias no cargo, Itamar deixou ao quarto ministro — Fernando Henrique Cardoso — uma missão impossível: encontrar profissionais com perfil adequado que se dispusessem a integrar a quarta equipe econômica de um presidente que se mostrava absurdamente instável e mercurial, com menos de 20 meses de mandato e às voltas com uma taxa de inflação da ordem de 30% ao mês. Ter enfrentado com tanto sucesso essa missão impossível e viabilizado o Plano Real talvez tenha sido o melhor momento da longa carreira de FHC, por mais notável que tenha sido seu desempenho posterior como presidente da República.
Por razões um tanto distintas, Temer parecia fadado a enfrentar sérias dificuldades para compor uma equipe econômica razoável. E, no entanto, ao recrutar Henrique Meirelles e Ilan Goldfajn, acabou conseguindo atrair um leque de profissionais da melhor qualidade e montar uma equipe econômica para ninguém botar defeito.
Diante do quadro de devastação que hoje se vê, não se pode subestimar as reais proporções do desafio de reconstrução que o governo tem pela frente. E é reconfortante saber que, ao enfrentar tal desafio, o governo pelo menos poderá contar com uma equipe econômica extraída do que o país tem de melhor.
É mais do que sabido, contudo, que a superação da crise deverá exigir bem mais do que uma equipe econômica de alto nível. Seria desajuizado, a esta altura, dar asas a devaneios de onipotência tecnocrática. Uma equipe de qualidade é absolutamente fundamental. Mas, tendo em vista a agenda de política econômica que hoje se faz necessária, a superação da crise também deverá exigir sólido respaldo do Congresso.
Não se pode dizer que Temer tenha descuidado desse segundo requisito. Muito pelo contrário. Apostou parte substancial do seu capital político inicial na composição de um ministério que possa lhe assegurar, na medida do possível, uma base parlamentar minimamente confiável, no terreno movediço de um Congresso acossado pela Lava-Jato.
É só o começo. Ainda há muita incerteza pela frente. E tudo indica que, da perspectiva de Temer, continuará sendo “uma guerra”. Mas é um bom começo.
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Rogério Furquim Werneck é economista e professor da PUC-Rio
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