sexta-feira, 17 de junho de 2016

Devastação machadiana - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

"Muito ruim para a governabilidade", sentencia a nota do Planalto sobre a delação premiada de Sérgio Machado que acusa o presidente interino, Michel Temer, de ter solicitado propina para financiar uma campanha eleitoral. É difícil discordar. O furacão deflagrado pela denúncia de Machado adiciona ainda mais instabilidade a um quadro político que já era precário.

É preciso, porém, distinguir a governabilidade de curto prazo de outra com horizontes mais dilatados. Para esta última, a devastação provocada por Machado, que certamente será ampliada por outras delações que estão na fila, é uma boa notícia.

A crer no excelente "Por Que as Nações Fracassam", de Daron Acemoglu (MIT) e James Robinson (Harvard), que já citei aqui algumas vezes, o que diferencia países que deram certo dos Estados falidos é a natureza de suas instituições. Se elas forem inclusivas, permitindo que a maioria da população tire proveito das oportunidades econômicas, o desenvolvimento vem como consequência; se forem extrativistas, isto é, utilizadas com o propósito de favorecer uma elite, pode até ocorrer crescimento, mas seu fôlego será curto.


Meu palpite é que o Brasil está bem no meio do caminho. Temos, por certo, instituições bem melhores do que as de países africanos e mesmo muitos latino-americanos. O simples fato de a Lava Jato prosseguir, apesar da pressão de políticos em contrário, é prova disso. Mas, por outro lado, a dimensão estonteante da operação policial e o fato de ela já ter recuperado bilhões de reais em recursos desviados mostram que a elite política e empresarial se servia das estruturas do Estado num caráter ainda bastante extrativista.

Levar a Lava Jato até o fim é um passo necessário para avançarmos na consolidação das instituições que fazem com que nações deem certo. Se o preço a pagar for sacrificar um governo que começava a arrumar a bagunça econômica, paciência.

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