sexta-feira, 17 de junho de 2016

Ministro se antecipa a nova acusação e pede demissão

• Henrique Eduardo Alves é o 3º auxiliar de Temer a cair em um mês

Aliados dizem que novas provas revelariam repasses numa conta não declarada na Suíça; presidente interino afirma que acusações contra ele, se fossem verdadeiras, o impediriam de presidir o país

O ministro Henrique Eduardo Alves (Turismo) pediu demissão ontem, tornando-se o terceiro auxiliar do governo Temer a sair em um mês. Investigado na Lava-Jato, Alves foi acusado pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado de receber R$ 1,5 milhão de propina para campanhas. Uma nova prova contra ele, ainda não revelada, precipitou a demissão, como informou o blog de Jorge Bastos Moreno. Segundo aliados, Alves teria recebido recursos ilícitos na Suíça. Acusado por Machado de pedir R$ 1,5 milhão para a campanha de Gabriel Chalita, Temer disse que a citação é “leviana” e “mentirosa” e que, se tivesse cometido tal crime, não teria condições de presidir o país.

Cai o terceiro ministro

• Henrique Alves pede demissão após ser informado da descoberta de novas provas contra ele

Catarina Alencastro, Simone Iglesias e Eduardo Barretto - O Globo

-BRASÍLIA- Após ser envolvido em uma série de acusações na Operação Lava-Jato, o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), pediu demissão ontem. Apesar de a decisão de deixar o governo ter sido tomada um dia depois de novas revelações da delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado o atingirem, Henrique Alves só sacramentou sua demissão após receber a informação de que existem provas inéditas, desta vez documentais, contra ele, como antecipou o blog do jornalista Jorge Bastos Moreno, no site do GLOBO. Segundo integrantes da cúpula do governo e do PMDB, Alves teria sido informado sobre a descoberta de um depósito de empreiteira em uma conta sua na Suíça.


Aliado histórico e amigo próximo do presidente interino, Michel Temer, Henrique Alves é o terceiro ministro a cair em apenas 35 dias de governo. Antes dele, Romero Jucá (Planejamento) e Fabiano Silveira (Transparência) deixaram de ser ministros também devido a citações ou declarações relativas à Lava-Jato. O presidente interino chamou Henrique Alves ao seu gabinete na noite de quarta-feira após vir a público a delação de Sérgio Machado acusando Alves de ter recebido R$ 1,5 milhão para várias campanhas e de fazer lobby para empresas de tecnologia e serviços serem contratadas pela Transpetro. Os recursos eleitorais teriam como origem contratos entre a estatal e as empreiteiras Queiroz Galvão e Galvão Engenharia. Nesta conversa, Temer pediu ao ministro para pensar sobre a necessidade de deixar o governo:

— Se tem alguma coisa concreta contra você, não tem como você ficar no governo — disse o presidente interino a Alves, segundo relato de um participante da reunião.

Na manhã de ontem, Alves conversou com o ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) para discutir sua situação. Foi aconselhado a pedir demissão, o que fez horas depois. Segundo um auxiliar de Temer, na conversa de ontem com o presidente Alves avaliou que, enquanto estivesse no governo, seria alvo ainda maior de vazamentos e especulações em torno da Lava-Jato. Temer acrescentou que ele não conseguiria fazer bom trabalho nessas circunstâncias, e que o ambiente só iria se “agudizar”.

— Ele sentiu o clima e resolveu se antecipar, fez um gesto previdente — disse o assessor.

Ontem à noite, indagado através de sua assessoria sobre a possível existência de repasses para uma conta dele na Suíça, Alves não confirmou nem negou: “Sempre pautei minhas atitudes e relações pela ética, respeito institucional aos cargos públicos ocupados e valores republicanos. Repudio ilações envolvendo o meu nome, reafirmo a confiança nas instituições do estado democrático de direito brasileiro. Estou à disposição das autoridades competentes e prestarei os esclarecimentos necessários nas instâncias adequadas quando solicitado”.

Ministro era dos mais próximos a Temer
Em sua delação, Sérgio Machado afirmou que o ex-ministro era insistente na busca de doações. “Ele (Henrique Alves) ligava diversas vezes para a Transpetro e o depoente ligou algumas vezes para ele”, diz trecho do depoimento.

Na conversa definitiva com Alves ontem à tarde, segundo relatos de auxiliares, Temer se mostrou “abaladíssimo” e comentou que estava perdendo amigos no governo, o que lamentava muito. Os dois conversaram por mais de uma hora. Alves é um dos peemedebistas mais próximos a Temer e há muitos anos integra o mesmo grupo dentro do partido. Agora, do núcleo político que há anos acompanha Temer, há apenas três em cargos estratégicos do governo: os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Geddel Vieira Lima (Governo), e o ex-governador Moreira Franco, coordenador do programa de privatizações.

Após entregar a Temer a carta de desligamento, o peemedebista deixou o Planalto abatido, às 18h15m, pela garagem privativa de autoridades. Ele não quis comentar o pedido de demissão. Abordado pelo GLOBO, foi lacônico: — Agora sou ex-ministro. No governo de Dilma Rousseff, Temer atuou para Alves ser indicado ministro. Ele conseguiu emplacar o amigo no Ministério do Turismo em 2015, depois que este foi derrotado na disputa pelo governo do Rio Grande do Norte e ficou sem mandato. Quando se iniciou o processo de impeachment contra Dilma, Alves foi o primeiro peemedebista a pedir demissão para evitar constrangimentos, já que Temer assumiria.

O gesto foi considerado por Temer um sinal de lealdade, e ele resolveu convidá-lo para o Ministério, mesmo com os dois pedidos de abertura de inquérito na Lava-Jato. Segundo um assessor, Temer resolveu nomear o aliado acreditando assumir um “risco calculado”, já que não imaginava que novidades surgiriam contra ele.

Ontem, mantendo cuidado para não magoar Alves, Temer orientou sua equipe de comunicação a delegar para o time do ministro a tarefa de formalizar sua demissão. Na primeira nota divulgada por sua assessoria, Alves disse que “o momento nacional exige atitudes pessoais em prol do bem maior”. Ressaltou que não queria criar “constrangimentos” ao governo interino.

“Não quero criar constrangimentos ou qualquer dificuldade para o governo, nas suas próprias palavras, de salvação nacional. Estou seguro de que todas as ilações envolvendo o meu nome serão esclarecidas”, disse na nota.

No início da noite, Temer publicou carta em resposta a Alves, agradecendo a dedicação e a lealdade do “caro amigo”. “Agradeço a dedicação e lealdade que sempre permeou nossa relação pessoal e no campo político”, escreveu.

O líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA), afirmou que o sistema político está falido e que a saída de Alves do governo é fruto dessa “podridão”:

— A queda de mais um ministro é proveniente da podridão do sistema político que está envolvendo todos os partidos políticos. Por isso, o governo Temer não se sustentará. É hora de o Congresso fazer a reforma política. A forma como a política foi implementada, sem diferença entre o público e o privado, está fazendo acontecer isso, tanto no governo Dilma como no Temer. Mas há uma diferença: o governo Dilma saiu das urnas.

Já o líder do DEM, Pauderney Avelino (AM), disse que o governo Temer se difere do de Dilma justamente pela celeridade em substituir ministros com envolvimento na Lava-Jato.

— O governo Dilma passava a mão na cabeça na cabeça dos seus. Este, não, se há alguma evidência de que (alguém) tenha pactuado questões ilícitas, o presidente Temer afasta.

Os problemas de Henrique Alves


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