- Folha de S. Paulo
O ano que passou foi do juiz Sergio Moro, venerado e detestado com igual paixão ao comandar os lances espetaculares da Operação Lava Jato. Num cenário pesquisado pelo Datafolha em dezembro, cravou 11% para presidente, acima, por exemplo, dos tucanos Aécio Neves (7%) e Geraldo Alckmin (5%).
Era saudável ver a figura ponderada e técnica de Moro no comando de uma operação tão sensível, um feliz contraste com o chiliquento ocupante anterior da vaga de primeiro-juiz da nação, Joaquim Barbosa. Mas em 2016, Moro começou a escorregar. Aqui vão apenas alguns exemplos:
Em março, quando camisas amarelas tomaram a Paulista, no maior protesto contra Dilma Rousseff, Moro uniu-se ao coro com uma nota em que se dizia "tocado" pelas menções a seu nome e louvava o trabalho "robusto" do Ministério Público Federal —parte nas ações que ele tem de julgar de forma isenta.
Em outubro, teve um surto de joaquimbarbosite ao reagir a um artigo do físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite na Folha. Não contente em responder ao mérito das acusações, pontificou que a publicação de opiniões panfletárias "deveria ser evitada". Em outros tempos, o nome disso seria censura prévia.
O derradeiro deslize veio nos últimos dias de 2016, numa conversa ao pé do ouvido com Aécio —político citado por um delator da Odebrecht—, registrada por uma foto emblemática. Pelo menos dessa vez, Moro admitiu que a imagem era "infeliz".
Em 2017, a fervura seguirá alta, com novas revelações da Odebrecht, a possível delação de Eduardo Cunha e prováveis condenações de Lula. Tais condições exigem que Moro volte à discrição pré-estrelato, sem cair na tentação de ser parte do debate político. Sem virar um Gilmar Mendes, em outras palavras.
A principal ameaça à Lava Jato, maior até do que um acordão no Congresso, é a perda de credibilidade de seu principal porta-estandarte.
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