O humor dos mercados financeiros nos primeiros dias do ano é bem diferente daquele exibido no mesmo período de 2016, quando revelaram o temor de uma desaceleração abrupta na China e riscos de reversão na recuperação econômica global. Agora, as bolsas americanas e europeias continuam batendo recordes, as commodities seguem em frente com alguma recuperação de preços e os mais recentes indicadores dos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e China, por exemplo, mostram que o crescimento global poderá ser maior em 2017. Restam ameaças, como a possibilidade de a economia global ser atingida por sérios distúrbios geopolíticos provocados pela inexperiência e aventureirismo do novo presidente americano, Donald Trump.
Desde o fim do ano passado, e em especial após a eleição de Trump, os mercados vêm sinalizando um futuro melhor para a economia americana. As promessas eleitorais de corte de impostos e de um pacote de estímulos de US$ 550 bilhões de investimentos em infraestrutura foram suficientes para criar uma onda de otimismo, a de que a política fiscal finalmente havia chegado para resgatar a política monetária de sua impotência para impulsionar a expansão econômica.
As expectativas do mercado deixaram de lado o edifício mal costurado e incoerente dos planos econômicos de Trump, para não dizer suas políticas ruinosas, como um protecionismo estridente e ultrapassado. Deixaram de lado também o fato de que os estímulos, entre eles cortes de impostos para os mais ricos, serão feitos em um momento em que a economia está em pleno emprego e de que colocarão mais uma montanha de dívidas sobre os US$ 19 trilhões atuais. Se um fator singular pudesse ser apontado como maior ameaça hoje à estabilidade econômica ele seria a política de Trump e seu gabinete de milionários e generais. Trump ainda não entrou por inteiro no preços dos ativos, o que será inevitável a partir do dia 20, com os anúncios de medidas que darão corpo a algumas de suas promessas eleitorais.
Mas o desempenho dos mercados financeiros, para além de Trump, estão mais em sintonia com progressos reais na economia global nos últimos meses. A última bateria de indicadores, referentes a dezembro, que alimentaram um início de ano para cima nos mercados, aponta um ritmo robusto de expansão na produção industrial dos EUA, China, Alemanha e Reino Unido pós-Brexit.
Alguns analistas afirmam que a economia global está crescendo agora a seu ritmo mais intenso desde 2010, 4,1%, acima de sua tendência de longo prazo, de 3,8% (Gavyn Davies, Financial Times, 2 de janeiro). Os países emergentes, por seu lado, deixaram de agir como freio e, depois da estabilização da Rússia e da iminente reação no Brasil, voltaram a crescer a 6% ao ano.
Os EUA, com crescimento anual de 3,5%, encabeça a reativação. Sua produção manufatureira avançou em dezembro ao ritmo mais rápido em dois anos, com encomendas subindo e preços com a maior elevação desde junho de 2011, segundo o índice de gerente de compras (PMI). Os salários saíram da letargia e apontam para ganhos reais mais elevados. E Trump, que na campanha eleitoral qualificou a situação da economia como um "desastre" a receberá em melhor forma do que qualquer outro presidente após George Bush pai (1989).
O avanço americano e a elevação dos juros planejada pelo Fed estão levando à valorização recorde do dólar, ajudando a empurrar os preços para cima na zona do euro, favorecendo as exportações do bloco, especialmente as da Alemanha, e reduzindo a necessidade de novos estímulos monetários por parte do Banco Central Europeu. A tendência poderá ser a de o BCE iniciar sua redução, a médio prazo e na ausência de choques imprevistos. A inflação já está subindo em alguns países, e não só pela recuperação dos preços do petróleo. Em dezembro, ela quase dobrou em relação ao mês anterior na Alemanha, onde atingiu 1,7%, enquanto que a taxa de desemprego, de 6%, foi a menor desde a reunificação do país em 1990.
Guinadas negativas da economia global não estão descartadas, embora sejam pouco prováveis. A desaceleração da China ainda é um risco, mas estímulos fiscais estão sustentando o crescimento ao redor de 6,8%. Não se esperam surpresas até o Congresso do Partido Comunista em outubro, quando Xi Jinping buscará consolidar a ampliação de seu poder.
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