- O Estado de S. Paulo
Se agremiação do governo fosse para rua em fevereiro, estilo seria ‘concentra, mas não sai’
O carnaval chegou e marchinhas tocadas em todo o País satirizam a reforma da Previdência e o risco de os deputados que votarem a favor não se reelegerem no pleito de outubro.
O carnaval está nas ruas e não houve, nas primeiras semanas do ano, nenhuma grande mobilização de verdade em favor da proposta, como prometeram as lideranças do governo no fim de dezembro, assim que o líder Romero Jucá (MDB-RR) anunciou o adiamento da votação para fevereiro.
Por razões de sobrevivência, o Palácio do Planalto até que tenta manter a moral em alta em torno da sua aprovação. Mas, nos bastidores, autoridades de Brasília já tratam de preparar os agentes econômicos para mais um adiamento da votação.
Para o público: “Haverá votação depois do carnaval”. Nos bastidores: “Ela vai ficar para novembro após as eleições”. Foi o que fez o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em reunião fechada para investidores estrangeiros, em Londres.
Depois que a informação foi revelada pela correspondente na Europa do Estadão/ Broadcast, Meirelles foi alvo de críticas dos ministros que ainda procuram um discurso para o presidente Michel Temer para o “day after” do mais que provável novo adiamento.
Sem ter o que dizer quando essa hora chegar, o presidente e sua equipe traçaram a estratégia de “lavar as mãos”. Ela pressupõe colocar em votação a Proposta de Emenda à Constituição no dia 20 de fevereiro “mesmo que para perder”. Se perder, Temer dirá que fez a parte dele.
Essa posição leva em conta a avaliação de que os deputados serão cobrados depois pelo seu posicionamento em relação à reforma. É a política do “mostre o seu voto”. Para o bem ou para mal, a depender do ponto de vista de cada um e dos seus eleitores. Os alvos principais são os pré-candidatos à Presidência, entre eles, o tucano Geraldo Alckmin.
Não está claro se o presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ) vai aceitar esse jogo. É bem provável que não. Assim, o que deve acontecer é mesmo o adiamento simples da votação.
A cartada que os ministros palacianos afirmam ter é o poder das emendas parlamentares para conseguir o apoio dos deputados resistentes a votar a favor da reforma. Os ministérios fizeram circular que o governo tem um arsenal de R$ 20 bilhões de emendas para serem liberadas.
Para isso, uma estratégia foi montada para aumentar o espaço fiscal das emendas. Mesmo com o dinheiro liberado pela equipe econômica, os ministérios com maior número dessas propostas (Saúde, Integração Nacional e Cidades) seguraram o pagamento das emendas individuais e de bancada na reta final do ano.
Com o represamento, o poder do governo em 2018 aumenta. Mas tudo levar a crer que esse movimento esteja mais relacionado à campanha eleitoral do que à própria votação da reforma.
Enquanto a encenação continua, cresce o consenso, inclusive em redutos da área econômica do governo, que é melhor deixar a proposta de reforma para o próximo presidente. Já que uma reforma acanhada não daria conta do problema.
A equipe econômica já tem o seu discurso: o do crescimento mais forte, que tem permitido uma reação da arrecadação bem acima do esperado e pode ajudar a diminuir o déficit em 2018. Depois, o problema é do presidente eleito.
É sintomático que o Fundo Monetário Internacional (FMI) tenha disparado o alerta esta semana de que é melhor esperar um pouco mais para a reforma. Ruim seria, segundo o FMI, aprovar uma reforma fraca, às pressas. Na visão do Fundo, o que é relevante é “a força, a qualidade e o timing” da reforma da Previdência.
Faz todo sentido.
A construção do desembarque da reforma já foi feita. Só falta o anúncio. Se fosse colocar o bloco na rua de fato em fevereiro, a agremiação carnavalesca do governo seguiria o estilo “concentra, mas não sai”.
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