Por Sérgio Ruck Bueno | Valor Econômico
PORTO ALEGRE - Pré-candidata à Presidência da República pelo PCdoB, a deputada estadual Manuela D'Ávila, do Rio Grande do Sul, afirma que uma aliança entre os partidos de esquerda pode não ser "possível" nem "desejável" na eleição presidencial deste ano. Afirma, no entanto, que eles precisam estabelecer um "diálogo" para enfrentar a "eleição diferente" que se aproxima com a possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ficar de fora da disputa após a condenação pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) e espera que a multiplicidade de candidatos, "conjuntamente", impeça que a eleição se defina no primeiro turno e garanta vaga para um deles no segundo.
O ingresso de Manuela, assim como de Ciro Gomes, do PDT, na corrida presidencial reflete a janela de oportunidade aberta com a possível saída de Lula do páreo e o provável enfraquecimento do PT caso o partido tenha que optar por outro nome. Neste cenário, siglas que antes se aliavam aos petistas ou ficavam bem atrás deles nas eleições têm a chance de buscar um espaço mais relevante na briga pela hegemonia à esquerda. O quadro deve se completar com o PSOL, que pode entrar na disputa com o presidente do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos.
"Não cogito a hipótese de deixar de registrar a minha candidatura porque hoje este não é o ambiente político do meu partido", garante a deputada. "Hoje a nossa militância e o nosso partido estão muito mais entusiasmados do que quando lançamos [a pré-candidatura], em novembro", reforça.
A entrada em vigor da cláusula de barreira, que impedirá o repasse de recursos públicos e o acesso à propaganda gratuita no rádio e na TV aos partidos que não atingirem 1,5% dos votos válidos em nove Estados para a Câmara dos Deputados em 2018, também estimula o lançamento de mais candidaturas à Presidência, pois elas tendem a reforçar a votação nas respectivas bancadas. Segundo Manuela, a reforma política não foi determinante, mas também fez parte das "reflexões" em torno do seu lançamento.
Mas apesar do maior número de candidatos neste ano, a pré-candidata avalia que a esquerda sai "mais unida" da crise que culminou com a condenação de Lula no TRF-4. "Estamos vivendo uma unidade que não vivíamos há muito tempo", afirma. De acordo com Manuela, o próprio ex-presidente sugeriu a ela a organização de comícios em conjunto durante a campanha.
No fim de fevereiro ou início de março, as fundações ligadas ao PCdoB, PT, PDT e PSB também devem lançar um documento básico para um "programa mínimo comum", acrescenta a deputada, que espera ainda pela participação do Psol na iniciativa. Segundo ela, o documento terá como base o papel do Estado na retomada do crescimento da economia, a garantia de direitos sociais e a revogação de reformas como a trabalhista e da proposta de mudanças na Previdência.
Participante ativa das manifestações pela absolvição do ex-presidente pelo TRF-4 no dia 24, a pré-candidata pelo PCdoB afirmou que "a defesa da candidatura de Lula não significa emprestar a ideia de que nós estaremos juntos [na eleição], mas defender a democracia". Para ela, "esforço de setores da mídia e do Judiciário para impedir Lula de ser candidato é a continuidade do golpe" que iniciou com o impeachment a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) para abrir espaço para as reformas do governo de Michel Temer (PMDB).
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