- Valor Econômico
PSDB desperdiçou patrimônio eleitoral obtido em 2014
No dia 26 de outubro de 2014, o PSDB perdia novamente uma disputa presidencial para o PT - a quarta vez seguida desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva subira a rampa do Palácio do Planalto. O resultado obviamente não era comemorado entre os tucanos, mas virtualmente garantia ao partido um patrimônio eleitoral de 51.041.155 de votos. Em razão da crise econômica já instalada no país e do cataclismo político que se avizinhava, esse ativo era considerado por Aécio Neves e seus correligionários um importante trunfo para as eleições presidenciais deste ano. Essa expectativa, no entanto, até agora não se confirmou.
A candidatura do PSDB à Presidência da República tem dificuldades de decolar e é vista com desconfiança pelas forças políticas e empresariais que querem eleger um candidato de centro. O processo de autodepuração pelo qual o partido teve de passar depois de ter o seu então presidente e mais recente candidato à Presidência da República envolvido em um ruidoso escândalo político, somado à pulverização da atual disputa eleitoral, colocou o PSDB em desvantagem competitiva.
O partido corre contra o tempo. Antes da fragilização do PT em razão da condenação em segunda instância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PSDB já assistia ao deputado Jair Bolsonaro dividir a dianteira das pesquisas de intenção de voto, na frente de Geraldo Alckmin ou outro nome que pudesse empunhar a bandeira do partido na eleição. Agora, ciente dos desafios, o PSDB já começa a aceitar o seu novo tamanho e sinaliza ceder a aliados em praças estratégicas, como São Paulo, para manter vivo um projeto nacional. Sabe que precisa se esforçar para ser encarado, pelos demais partidos, como um dos principais polos da eleição presidencial. Só assim conseguirá adesões para ampliar o tempo de exposição de seu candidato no rádio e na televisão, importante arma numa campanha que será marcada pela restrição de verbas e novas regras de financiamento eleitoral.
Escolhido pela cúpula do PSDB para a disputa presidencial, o governador de São Paulo ainda trabalha para pacificar a sigla e evitar as prévias marcadas para março. Na sequência, precisará reconstruir a imagem do partido entre os eleitores que sempre votaram no PSDB e hoje, além de repudiar as denúncias de irregularidades envolvendo os tucanos, já consideram alternativas devido à atuação errática da legenda em relação a temas caros a essa parcela da população, como a agenda reformista e o rigor fiscal.
O PSDB não tem mais cadeira cativa no lado oposto do espectro político nacional ao ocupado pelo PT, partido com o qual polarizou nos últimos anos. Com o avanço do calendário, os demais postulantes ao posto de candidato preferencial do eleitorado de centro e centro-direita acelerarão na corrida pelo preenchimento desse espaço. E a expectativa deles é que, envolvido nos problemas internos do PSDB e sem mais o controle da máquina do governo de São Paulo, Alckmin tenha dificuldades para avançar nessa batalha.
Como revelou o Valor, o apresentador Luciano Huck não é visto como fora do jogo. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), também se movimenta.
Diferentemente de Alckmin e do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, Maia não precisa deixar o cargo durante a campanha eleitoral. Ou seja, teria papel de destaque garantido, em caso de aprovação de projetos relevantes pela Câmara na área econômica. E já articula com aliados uma agenda para a área social. As próximas pesquisas de intenção de voto devem ditar a dinâmica da briga já travada no centro do ringue.
Pré-candidatos do PSB contra Barbosa
Uma eventual aliança do PSB com o PSDB não é o único obstáculo à candidatura de Joaquim Barbosa a presidente da República pela sigla. É verdade que a cúpula do PSB não hesitaria em aderir à chapa a ser encabeçada por Geraldo Alckmin, caso o governador paulista garantisse o apoio tucano à reeleição de Márcio França. O vice assumirá em abril o governo de São Paulo e sua permanência é vital, para direção do PSB, na estratégia de consolidar o partido como umas das principais siglas do país e uma referência da esquerda. Governar por pelo menos quatro anos o Estado que é o berço eleitoral do PT não seria um feito desprezível.
A pressão para que o PSB não tenha representante próprio na corrida presidencial também vem de pré-candidatos a governador de diversas unidades da federação. Ela não é ideológica e também não se caracteriza por uma eventual insatisfação com o fato de a legenda ser oferecida a alguém que ainda nem se filiou. A motivação é financeira e pragmática: com Barbosa ou qualquer outro candidato a presidente, as outras campanhas do partido teriam à disposição menos recursos do fundo eleitoral.
Lula é desafio para o TSE
As discussões formais sobre a legalidade de uma eventual candidatura de Lula só devem ocorrer a partir de meados de agosto, se o PT insistir em inscrevê-lo na corrida presidencial. Afinal, os partidos e as coligações devem solicitar à Justiça Eleitoral o registro de seus candidatos até o dia 15 de agosto, data que então abrirá para o Ministério Público Eleitoral ou outro partido que tenha interesse na sua impugnação a temporada de caça à candidatura do ex-presidente.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no entanto, deve se defrontar com um desafio antes desse período. Em suas próximas caravanas, Lula sairá país afora reforçando o discurso segundo o qual a eleição de outubro será uma fraude, se o seu nome não estiver nas urnas. Mesmo que Lula não peça explicitamente votos, a movimentação e outras declarações poderão ser consideradas campanha fora de hora, na visão de especialistas e até mesmo integrantes da Corte Eleitoral. Ao julgá-lo por campanha antecipada, porém, será o próprio TSE que estará, na prática, elevando Lula à condição de pré-candidato, status que já praticamente não encontra mais respaldo na Lei da Ficha Limpa. Se optar pelo silêncio, poderá ser acusado de omissão.
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